O Brasil precisa urgentemente reduzir sua dependência externa na área de fertilizantes, na opinião do engenheiro agrônomo da Embrapa Solos, Vinicius Benites. Em entrevista à Agência Brasil, ele afirmou que, embora seja o quarto maior produtor mundial de fertilizantes, o Brasil importa cerca de 60% dos insumos que usa.
“Nós somos um País agrícola, mas com uma produção [de fertilizantes] muito aquém da nossa demanda. Então, o componente fertilizante, dentro do custo de produção de grãos, como soja e milho, corresponde a quase 30%. Existe uma relação direta entre o custo do alimento e o custo do fertilizante”.
Benites lembrou que quando a oferta diminui ou a demanda aumenta muito, a pressão sobre os preços é grande. Os estudos mostram que as reservas estão concentradas em poucos países, o que reforça o controle do preço. Ou seja, as nações produtoras podem elevar os preços de acordo com a demanda. “E pode faltar fertilizante”.
Os maiores compradores mundiais de fertilizantes são a China e a Índia. Ocorre porém que, ao contrário do Brasil, eles têm subsídios do governo.
“O governo compra o fertilizante, entrega ao produtor a um preço subsidiado. No Brasil, nós somos taxados sobre os fertilizantes”. Benites disse que quando a demanda mundial se expande muito, os principais responsáveis são os chineses e indianos. “Aí, falta para o Brasil”.
Com a perspectiva de reaquecimento da economia global, os pesquisadores da Embrapa Solos prevêem que nos próximos anos pode faltar fertilizantes, como no ano passado, com a consequente disparada nos preços. “Com isso, a pressão sobre o custo de produção de alimentos vai ser muito alto”.
Benites esclareceu que quando o aumento da demanda não acompanha a ampliação da oferta, a consequência é elevação dos preços. E, com a expansão da agroenergia, destinada à produção de etanol e biodiesel, a tendência de importação pelo Brasil deverá se elevar ainda mais, alertou o pesquisador. Com isso, a expectativa é de aumento do consumo interno.
O consumo brasileiro de fertilizantes atingiu 4% no ano passado. Este ano, em função da crise financeira internacional, os preços experimentaram retração. Daí, se espera um aumento do consumo no Brasil. Benites estimou que esse crescimento do consumo brasileiro de fertilizantes poderá ficar em torno de 6%.
O pesquisador afirmou que não é necessário desmatar a Amazônia para ampliar a área agrícola brasileira. “Porque a gente pode ampliar a nossa área agrícola sobre as áreas de pastagens degradadas. Mas, essas áreas, como o próprio nome já diz, são degradadas quimicamente também”.
Isso faz com que o custo de transformação de uma área degradada em área apta à produção grãos seja muito alto, justamente em função da demanda por fertilizantes. “No final das contas, a conta não fecha”, destacou. “A demanda futura é muito grande e nós não estamos preparados para isso”.
Para discutir a possibilidade de um “apagão” no setor, especialistas brasileiros e internacionais participam amanhã (25/09) do painel Fertilizantes e Produção de Alimentos no Mundo, que a Embrapa Solos promove em sua sede, no Rio de Janeiro.