São cada vez mais evidentes os sinais de que a francesa Doux está prestes a deixar o Brasil, 14 anos após chegar ao país com a compra da gaúcha Frangosul, em 1998. Depois de mais de três anos de dificuldades financeiras, iniciadas na crise internacional de 2008 e marcadas por intermináveis atrasos dos pagamentos aos criadores integrados, a empresa paralisou seus dois frigoríficos de aves no Rio Grande do Sul, incluindo a matriz em Montenegro e a unidade localizada em Passo Fundo.
Os frigoríficos estão parados por falta de matéria-prima, já que a própria Doux suspendeu o alojamento de pintos com os integrados há duas semanas, explicou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), Elton Weber. Segundo ele, a empresa informou que as negociações com bancos e com um novo “investidor” estão adiantadas e podem ser finalizadas nesta semana. Procurada ontem, a multinacional informou, por intermédio de sua assessoria, que deve divulgar uma posição sobre o assunto somente nesta quarta-feira.
Conforme representantes dos trabalhadores, as unidades de Montenegro e Passo Fundo estão sendo preparadas para a transferência ao novo controlador, em maio. A planta de abate de suínos em Caxias do Sul está funcionando, mas em fevereiro a Doux informou que tinha acertado a venda da operação, sem revelar para quem. Em junho de 2009 a empresa vendeu o frigorífico de perus na cidade para a Marfrig.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Montenegro, João Marcelino da Rosa, disse que o frigorífico local está parado desde o dia 5. A fábrica de embutidos e empanados de aves produz em apenas um turno com matéria-prima adquirida de terceiros desde 26 de fevereiro, quando foi parcialmente reativada após duas semanas paralisada.
Em Passo Fundo, os funcionários também foram dispensados no início do mês, segundo o presidente do sindicato local, Miguel dos Santos. Em Caxias do Sul, o frigorífico de suínos elevou abates para 2,5 mil animais por dia nas últimas duas semanas, disse a presidente do sindicato dos trabalhadores, Arlete Schmitz.
A disposição de “abrir o capital” e de “buscar um novo investidor” para as operações no Brasil e de refinanciar as dívidas com bancos foi confirmada pela Doux em fevereiro e desde então circulam especulações de que JBS, BRF – Brasil Foods ou Marfrig poderiam ficar com os ativos. Nenhuma delas comenta o assunto.
A BRF informou, em 2011, que negociava a compra da unidade de Caxias do Sul, mas depois desistiu do negócio por exigência do Cade, que também impediu a transferência, para a empresa, do frigorífico de suínos da Marfrig em Mato Grosso no processo de troca de ativos entre ambas. A JBS avaliou as operações da Doux, mas recuou em função das elevadas dívidas da multinacional.
No fim de 2010, o passivo financeiro da Doux somava R$ 128,6 milhões, sem contar R$ 442,1 milhões em adiantamentos de contratos de câmbio e operações de pré-pagamento de exportação. A dívida com fornecedores era de R$ 250,6 milhões, e o caixa somava R$ 31,5 milhões. Naquele ano, a empresa obteve receita bruta de R$ 1,5 bilhão.