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Dreyfus arrenda Chapecó e deve reforçar as exportações de carne

BNDES informa que ainda faltam ser definidos alguns detalhes da operação.

Da Redação 02/04/2003 – O grupo francês Louis Dreyfus, que no Brasil controla a Coinbra, acertou ontem (01) o arrendamento com opção de compra das quatro unidades de abate da Chapecó após quase dois meses de negociação com a empresa e com o BNDES, acionista e maior credor do frigorífico. O diretor de inclusão social do BNDES, Márcio Henrique de Castro, anunciou em entrevista que a direção do banco concordou com o arrendamento da Chapecó pela Coinbra. Segundo ele, não há proposta concreta de arrendamento. O grupo tem 30 dias para fazer uma análise da situação financeira da Chapecó e apresentar uma proposta inicial e 120 dias para chegar à proposta final de arrendamento.

Fontes próximas às negociações, porém, informam que a proposta existe e prevê o pagamento pela Coinbra de R$ 20 milhões por três anos de arrendamento com um ano de carência. Isto é, a empresa só começará a pagar o aluguel mensal das unidades operacionais de Chapecó, Xaxim, Cascavel e Santa Rosa após um ano.

Para essas fontes, o negócio é vantajoso para a Dreyfus, que poderá, ao arrendar as unidades, crescer na Rússia e no Oriente Médio, onde atua como trading de carnes. Um analista lembra que a Rússia é o principal mercado da Chapecó. Segundo as fontes, a Dreyfus também teria acesso a uma linha de financiamento de R$ 100 milhões do BNDES para capital de giro da Chapecó. O diretor de inclusão do social do BNDES também negou que o banco esteja atuando como “hospital de empresas”. “É uma operação normal. Estamos simplesmente concordando que duas empresas arrumem uma solução de mercado sem um centavo do BNDES”.

Outra vantagem, para as fontes, é que a Dreyfus não assumiria os passivos até exercer a opção de compra da Chapecó. Estima-se que as dívidas de longo prazo do frigorífico somem US$ 160 milhões.

Na entrevista, o presidente da Chapecó, Alex Fontana, disse que a Coinbra entrará no negócio “para dar liquidez aos movimentos da empresa no exterior”. Ele não explicou se o grupo fará alguma aporte e limitou-se a informar que a opção de compra pode ser feita em três a cinco anos. Fontana espera que o frigorífico esteja operando a plena capacidade entre agosto e setembro. Fontes do setor informam que a Dreyfus propôs pagar R$ 175 milhões pela Chapecó.

A decisão da Chapecó e do BNDES de fechar negócio com a Dreyfus desagradou a grupos nacionais. Para fontes do setor, o governo brasileiro estaria subsidiando ao financiar uma multinacional que já tem acesso a capital barato no exterior. A Dreyfus, que fatura US$ 20 bilhões por ano, atua em 53 países, em commodities agrícolas, petróleo, energia e telecomunicações. No Brasil, atua como trading, tem usinas de açúcar e álcool, esmagadoras de soja e processadoras de suco de laranja.

De última hora, frigoríficos reuniram-se para tentar encontrar uma saída doméstica para a Chapecó. Em reunião segunda-feira, o frigorífico catarinense Pamplona informou que faria proposta para arrendar todas as unidades da Chapecó. Uma fonte do BNDES rechaça as reclamações. Segundo esta fonte, teria faltado empenho por parte das empresas para encontrar uma solução. Segundo fontes dos frigoríficos, o BNDES também preferia uma saída doméstica, mas teria havido pressão política para um desfecho rápido.