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Exportação

É necessário ampliar o debate sobre as exportações de carne suína, afirma Coser

Para o analista Fabiano Coser, a discussão sobre o mercado internacional para carne suína brasileira é necessária para responder qual a real possibilidade de recuperação do volume perdido nos últimos três anos; quais expectativas de volume o setor pode esperar para os próximos anos; e qual o tamanho do esforço necessário fazer no mercado interno para acomodar o aumento da produção.

É necessário ampliar o debate sobre as exportações de carne suína, afirma Coser

Apesar do excelente momento vivido pela suinocultura brasileira em 2014, com preços recordes pagos aos produtores de suínos e valores recordes também no mercado internacional, a discussão sobre a exportação de carne suína mais uma vez ficou na frivolidade da análise momentânea do volume exportado mês a mês e na promessa de que no próximo ano buscaremos mais mercados. Fato é que 2014 encerrou com o menor volume exportado dos últimos 11 anos e pela primeira vez desde 2003 abaixo de 500 mil toneladas.
 
Os dados mensais já vinham indicando uma queda nos volumes embarcados, e o acumulado até novembro de 2014, de 455 mil toneladas, já indicava que o ano terminaria com um recorde negativo, de não atingir o padrão de pelo menos meio milhão de toneladas enviadas ao exterior. No Anuário 2015 da Suinocultura Industrial adiantei uma previsão de 490 mil toneladas exportadas, e agora com todos os números fechados a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgou em seu site que em dezembro foram embarcadas 38,41 mil toneladas e o ano encerrou com o total exportado de 494,22 mil toneladas.

 A bem da verdade é que para quem acompanhou mês a mês o volume embarcado não houve nenhuma surpresa, pois já nos meses de janeiro e fevereiro houve queda nos embarques, com agravamento da perda de volume nos meses de julho e agosto. O que impressiona mesmo é que durante todo o ano de 2014 as notícias pareciam tratar de aumento nas exportações, com uma sensação geral de que o preço interno ia bem porque o mercado internacional estava altamente comprador. Até estava, mas não para carne suína brasileira.
 

Conseguimos um preço melhor, em virtude dos problemas sanitários que atingiram o maior exportador mundial, os Estados Unidos, mas de concreto mesmo foi apenas isso, e graças ao melhor preço recebido no exterior o resultado financeiro deixou a impressão de que o ano foi excelente para as exportações. Numa análise de mais longo prazo, vimos que 2014 foi o ano das mais baixas médias mensais dos últimos três anos, e consolidou uma perda de nada menos que 87 mil toneladas. Também no último ano, apenas um mês, outubro, contou com volume embarcado para o exterior superior à média do triênio, contra quatro meses em 2013 e sete meses em 2012, mostrando um claro movimento de perda de mercado.

O resultado final do último ano foi apenas a confirmação do que vinha acontecendo mês a mês desde o problema da guerra na Ucrânia, que fez com que este país que foi o principal destino das exportações em 2012 nem aparecesse na lista dos principais mercados em 2014. Para se ter uma ideia da importância do volume que deixamos de exportar nos últimos três anos basta vermos que apenas dois destinos superaram esta marca em 2014, Rússia e Hong Kong. Todos os demais países compraram do Brasil no ano passado um volume inferior ao que foi perdido nos últimos três anos.

A queda nos volumes embarcados vem desde 2013, e passamos 2014 inteiro sem uma discussão maior sobre o mercado internacional para carne suína, e não há dúvida que muito contribuiu para isso os altos preços pagos aqui e lá fora. O ano mais uma vez começou com matérias falando em aumentar as exportações, sendo que na verdade temos que primeiro dizer o que fazer para recuperar o que foi perdido.
 
O Brasil tem ficado de fora dos principais acordos bilaterais e multilaterais, o que no longo prazo pode afetar severamente produtos que possuem maior concorrência de fornecedores no mercado internacional, como é o caso da carne suína. Carne suína não é soja, onde apenas três países, EUA, Brasil e Argentina, disputam um mundo ávido pelo grão. Também não é carne de boi, onde um reduzido número de países tem espaço físico para aumentar a oferta de gado e atender uma demanda mundial responsável por uma escalada surpreendente dos preços.
 
A discussão sobre o mercado internacional para carne suína brasileira é necessária para responder qual a real possibilidade de recuperação do volume perdido nos últimos três anos; quais expectativas de volume o setor pode esperar para os próximos anos; e a mais importante delas, qual o tamanho do esforço que será necessário fazer no mercado interno para acomodar o aumento da produção. Sem discutir de forma clara e com números todas estas possibilidades, corremos o risco de quando o mercado do suíno vivo baixar o preço vermos a tese de que o mercado internacional se retraiu. Para quem ainda não se deu conta isso já aconteceu.