O êxodo rural é um fenômeno provocado por causas múltiplas que, associadas, produzem um efeito sociológico medido pela migração das pessoas do meio rural para as zonas urbanas. Entre as causas mais recorrentes situam-se a falta de renda e a descapitalização do produtor rural que levam a um empobrecimento da família rural; o isolamento e a falta de assistência médica e hospitalar no campo; a ausência de opções de lazer, recreação e estudo; a dificuldade de acesso à educação profissionalizante, ao ensino superior e aos produtos da indústria cultural e de entretenimento.
Essa era a leitura que se fazia há algumas décadas desse quadro que, na época, refletia em certa medida o fracasso das políticas para o campo e a desatenção da sociedade brasileira para com a realidade rural.
Hodiernamente, muita coisa mudou. A migração da população rural para as cidades ainda existe, porém, em ritmo mais lento. O exemplo do grande oeste catarinense é emblemático. Pesquisa da Unoesc mostrou que os pequenos municípios perdem, anualmente, fatias de sua população que se transferem para as cidades que exercem o papel de micropolos regionais. Além dessa migração intrarregional ocorre outra – a litoralização – ou seja, pequenos e médios municípios oestinos perdem população para as cidades litorâneas. A concentração na orla marítima não é positiva, pois cria distorções na ocupação territorial, na distribuição da força de trabalho e na agudização dos problemas de cidades turísticas.
Nos últimos 20 anos, os maciços investimentos em formação e aperfeiçoamento profissional dos produtores rurais mudaram o perfil dos agentes econômicos que atuam no setor primário da economia. Produtores se transformaram em empresários rurais; trabalhadores rurais tornaram-se recursos humanos qualificados; famílias rurais passaram a ser multifuncionais e capacitadas para multitarefas. O Sistema S – Senar, Sescoop, Sebrae – teve um papel fundamental nesse processo ao lado dos Sindicatos Rurais, das Cooperativas e das agroindústrias.
Em decorrência, as principais cadeias produtivas modernizaram-se com o emprego de dois fatores: talento e tecnologia. Os recursos humanos capacitados pelos inúmeros programas do Sistema S passaram a empregar técnicas de gestão adequadas que levaram a plena otimização dos recursos disponíveis. Incorporaram-se as tecnologias em forma de máquinas, equipamentos, instalações, edificações agrícolas, genética, manejo, nutrição etc. Importantes cadeias produtivas como as da avicultura, suinocultura, bovinocultura de corte, bovinocultura de leite, grãos etc. elevaram seus níveis de produção, produtividade e rentabilidade.
O resultado de toda essa equação chama-se renda. Com renda maior, as famílias obtêm, no campo, conforto e comodidades, acessam bens de consumo duráveis e conquistam bem-estar semelhante ou superior ao das famílias urbanas.
A opção por permanecer ou retornar ao campo está muito presente nos participantes de duas importantes linhas de ação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar): no curso de formação de técnicos em agronegócio e na assistência técnica e gerencial (ATeG). A aplicação prática e imediata dos conhecimentos adquiridos melhora os índices de desempenho dos estabelecimentos rurais – e aumenta a renda do empresário, do produtor e da família rural.
Empresários e produtores rurais que operam com eficiência suas propriedades obtêm renda – e com renda podem sustentar uma vida de qualidade. Esses não deixarão o campo. Ao contrário, atrairão novos trabalhadores, empreendedores e investidores, revitalizando o setor primário da economia. Contribuir para o sucesso das cadeias produtivas da agricultura, da pecuária e do agronegócio em geral proporciona resultados que nenhum programa social ou política pública pode oferecer – entre eles a neutralização do êxodo e da migração.