O uso de cereais de inverno na alimentação animal está em avaliação pelos pesquisadores da Fundação ABC em parceria com a Embrapa Trigo. Com maior teor de proteínas, a cevada é alternativa para substituir parte do milho na composição de ração para suínos e gado leiteiro.
No mundo, 68% da cevada produzida é destinada à alimentação animal, como forragem ou na fabricação de rações. No Brasil, a malteação tem sido a principal aplicação econômica da cevada, já que o país dispõe de outras opções mais vantajosas para a alimentação animal. Contudo, com as constantes altas da soja e do milho, a tendência é que o consumo de cevada como forragem cresça a cada ano.
Atentos a este cenário, pesquisadores da Fundação ABC – instituição de pesquisa com sede em Castro, PR, mantida pelas cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal – solicitaram à Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) cultivares e linhagens de cevada para avaliar o potencial produtivo na composição de rações. Em visita aos programas de melhoramento no final de setembro, o coordenador de pesquisa do setor de Forragens & Grãos da Fundação ABC, Richard Paglia de Mello, também considerou novas oportunidades no uso de trigo, triticale e aveia para a produção leiteira com finalidades de pré-secado e silagem de planta inteira na alimentação do rebanho em confinamento.
Conforme o pesquisador da Embrapa Trigo, Euclydes Minella, estão em avaliação na Fundação ABC um conjunto de genótipos de cevada com teor de proteínas mais alto, visando selecionar características diferentes das exigidas para a indústria de malte e cerveja: “A indústria cervejeira precisa de cevada com um teor mínimo de 9,5% e um máximo de 12% de proteína bruta para poder fazer malte com qualidade que atende o mercado. Em caminho oposto, na alimentação animal a proteína é fundamental, então buscamos cultivares com proteínas preferencialmente acima de 12%”, explica Minella. Segundo o pesquisador, a cevada tem retorno na conversão animal similar ao milho, cerca de 10% inferior em energia, mas superior em proteína. A cevada também pode ofertar maior teor de fibras, desejável para compor rações para diferentes classes animais.
Na Embrapa Suínos e Aves (Concórdia, SC), a cevada está sendo avaliada na alimentação de suínos. Resultados de pesquisa mostram que a inclusão de até 80% de cevada em substituição ao milho não causou diferenças no desempenho dos animais, desde que os níveis de energia digestível fossem mantidos. A cevada pode ser usada em até 10% para a fase inicial e livremente para as demais fases, levando-se em conta o teor máximo de fibra e os valores nutricionais exigidos.
Na produção leiteira, o uso de cereais de inverno pode reduzir os custos em 4% na composição da ração (base nos preços de 2018). Conforme o pesquisador da Embrapa Trigo Renato Fontaneli, a economia resulta do alto valor energético e proteico dos cereais de inverno que permite substituir o milho na ração, com a possibilidade de reduzir o farelo de soja em até 40% nas formulações. “O alimento concentrado pode representar mais de 60% do custo da alimentação. Em cenário de alta no farelo de soja, os cereais de inverno se tornam cada vez mais competitivos na alimentação do rebanho”, afirma Fontaneli.
“Os programas de melhoramento genético com cereais de inverno na Embrapa conseguem atender tanto o mercado de commodities, quanto nichos e demandas específicas apontadas pelo setor produtivo. É preciso flexibilidade na pesquisa para se adaptar às constantes mudanças impostas pela agropecuária”, conclui o Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo Jorge Lemainski.