A tendência de estabilização de custos, aliada à continuidade da migração do consumo de carne bovina para as carnes de frango e suína no país e ao aumento da demanda no exterior, torna o cenário mais positivo para os negócios da BRF neste quarto trimestre e em 2022, sinalizaram os principais executivos da companhia em teleconferência com analistas na manhã de hoje (11/11).
O aumento de custos voltou a pressionar os resultados da BRF no terceiro trimestre deste ano, que também sentiram os reflexos da queda dos preços da carne suína vendida à China e da valorização da opção de venda que os sócios na empresa turca Banvit têm contra a dona das marcas Sadia e Perdigão. A BRF encerrou o período com prejuízo líquido de R$ 277 milhões, ante lucro de R$ 220 milhões no mesmo período do ano passado.
Em contrapartida, a receita líquida aumentou 24,6% na comparação, para R$ 12,4 bilhões, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado cresceu 3,9%, para R$ 1,4 bilhão, e o fluxo de caixa operacional alcançou R$ 1,6 bilhão. “O terceiro trimestre foi bastante desafiador, mas entregamos resultados sólidos”, disse Lorival Luz, CEO global da BRF, na teleconferência.
No Brasil, a receita líquida aumentou 20% no terceiro trimestre, para R$ 6,4 bilhões, em boa medida graças ao reajuste dos preços dos produtos comercialização no varejo — que, em média, foi de 20,7%. Com novos lançamentos, destacou a companhia, a receita proveniente de inovações no país representou 7% do total de julho a setembro, ante 5,6% um ano antes. O Ebitda ajustado no país subiu 5,7%, para R$ 878 milhões.
Ainda no front doméstico, a BRF lembrou que “evoluiu com suas iniciativas para expandir sua atuação em novos canais, disponibilizando seu portfólio no marketplace da Magazine Luiza e na plataforma de vendas BEES, da Ambev”. Na BEES, como noticiou o Valor em primeira mão, a BRF terá uma loja própria para atender mais de 800 mil micro, pequenos e médios estabelecimentos brasileiros cadastrados, e serão comercializados produtos de todas as marcas da empresa.
No Brasil, informou Luz, também está em curso a integração das operações das duas empresas de rações para pets adquiridas recentemente. A ordem agora, disse, é capturar sinergias entre os ativos incorporados do Grupo Hercosul e da Mogiana, e qualquer outra aquisição para reforçar a atuação no segmento foi colocada em compasso de espera.
Em parte, a cautela pode ser explicada pelo efeito do investimento de R$ 1,3 bilhão feito na aquisição dessas operações, que ajudou a levar o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado) da companhia a 3,06 vezes no fim do terceiro trimestre. O objetivo é que o indicador volte a ficar abaixo de 3 vezes. No fim do terceiro trimestre, o endividamento líquido estava em R$ 16,7 bilhões, R$ 1,9 bilhão a mais que no trimestre imediatamente anterior.
Em virtude das aquisições, o fluxo de caixa de investimentos da BRF alcançou quase R$ 1,8 bilhão no terceiro trimestre, 168,9% mais que em igual intervalo do ano passado, mas, com a redução da alavancagem prometida, a tendência é de redução neste quarto trimestre e em 2022 como um todo.
No exterior, o principal ponto de atenção é a China, onde os preços da carne suína recuaram de forma expressiva em meio à recomposição do rebanho do país asiático. A depender do ritmo de continuidade dessa queda, sinalizou o CEO global, a BRF poderá optar por direcionar parte da exportação de carne suína para outros mercados ou mesmo para o mercado brasileiro, na forma de produtos de maior valor agregado.
No terceiro trimestre, o segmento internacional da empresa registrou receita líquida de R$ 5,4 bilhões, 26,4% mais que no mesmo período de 2020. O Ebitda ajustado nessa frente recuou 13,7% na comparação, para R$ 411 milhões. Afora o problema na China, Luz destacou que a demanda está em alta no Oriente Médio, graças à volta do turismo — a receita da distribuição halal continua em elevação —, e no Japão, com a retomada da economia. Na Turquia, com a Banvit, as vendas também estão caminhando bem, de acordo com o executivo.
A BRF destacou, por fim, que continua a avançar com sua agenda ESG, com ações como investimentos de R$ 130 milhões em energia limpa e uma nova política de compra sustentável de grãos — até 2025, 100% dos grãos adquiridos na Amazônia e no Cerrado estarão sendo rastreados.