É grande a probabilidade de ocorrer, novamente, escassez de milho no mercado interno brasileiro em 2020 com sérios prejuízos para as cadeias produtivas de aves e suínos e para o parque agroindustrial, de acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).
Conforme a entidade, a insuficiência de milho será decorrência de fatores naturais (seca, queimadas, atraso no plantio e redução de área cultivada) e econômicos (aumento das exportações do grão em face da situação cambial favorável).
O cenário foi analisado pelo vice-presidente da Faesc, Enori Barbieri, ex-secretário de Estado da Agricultura e ex-presidente da Cidasc. Ele observou que o Brasil vai alcançar uma safra recorde que deve atingir 101 milhões de toneladas. Desse volume, 60 milhões de toneladas ficarão para consumo interno e outros 40 milhões de toneladas serão exportadas. Até agora já foram embarcadas 27 milhões e outros 13 milhões serão oportunamente exportados.
“A situação cambial estimula a exportação e o País deve exportar 40 milhões de toneladas”, destacou o dirigente. A exportação vai enxugar o mercado interno e, portanto, o milho-grão ficará mais escasso e mais caro. E ele cita outro detalhe: 5 milhões de toneladas serão transformados em etanol de milho no centro oeste do Brasil, o que reduzirá ainda mais a disponibilidade do grão no próximo ano.
O presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo – que também é vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) –, levará o assunto a Brasília e alertará o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Barbieri assinalou que a redução no plantio em Santa Catarina e no Brasil está claramente detectada pela Faesc. Ele acredita que “faltou visão e planejamento ao Ministério da Agricultura”. A acrescenta: “A situação será difícil em 2020 e já deve faltar milho no primeiro semestre. O cenário é preocupante porque, da demanda total, 96% destinam-se à nutrição animal, principalmente dos plantéis de aves e suínos.”
Vulnerabilidade
O Brasil iniciará 2020 muito vulnerável, com estoque baixos e totalmente dependente do clima. Como o preço de mercado nunca esteve abaixo do preço mínimo, o governo não se preocupou em fazer estoques. A saída será buscar milho no mercado internacional. Nesse caso, agroindústria e produtores pagarão pelo elevado custo de internação/interiorização do produto no país em razão das deficiências logísticas – más condições das rodovias, ferrovias, portos e terminais.
A preocupação da Faesc é coerente com a previsão para Santa Catarina que o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa) divulgou nesta semana. Ela indica que o milho-grão total (primeira e segunda safras) vai enfrentar queda de 1,07% na área plantada, de 3,16% do volume produzido e de 2,12% na produtividade em relação à safra anterior. Essa é uma tendência nacional.
Em Santa Catarina, o déficit de milho – cerca de 3,3 milhões de toneladas a cada ano – é suprido pelas importações interestaduais de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, além das importações da Argentina e Paraguai. A soja é a principal concorrente em área com o milho no Estado. A constante valorização do preço da soja e a forte oscilação nos preços do milho estimularam a conversão das áreas de milho para o plantio da soja, principalmente nas regiões oeste e meio-oeste. Desde 2012/2013 a área destinada às lavouras de milho-grão reduziu-se em mais de 150 mil hectares. Por outro lado, o crescimento da área cultivada para a produção de milho-silagem é outro fator que reduz a oferta de milho-grão para a suinocultura e a avicultura.