Grandes produtores de carne, como Estados Unidos e Austrália, estão de olho em mercados em que Brasil tinha força, como a China e a União Europeia.
Também de olho no espaço que será deixado pelo Brasil, mas com menor potencial de exportação, estão Argentina, Irlanda e Nova Zelândia.
Especialistas, ainda assim, dizem acreditar que o Brasil tenha uma vantagem: outros países terão dificuldade de suprir a demanda de um dos maiores exportadores de carne do mundo.
Os Estados Unidos, maior importador de carne processada do Brasil, anunciaram que aumentarão a fiscalização sobre os produtos.
A expectativa é que outros mercados ainda venham a impor barreiras ao Brasil, o que traz oportunidades para competidores.
“Estados Unidos e Austrália geram preocupação”, comentou o presidente Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
“É possível que nesses primeiros meses o Brasil perca mercados, especialmente de frango e carne bovina, para grandes produtores”, disse.
A proximidade geográfica com a China – segundo maior importador de carne brasileira – pode dar vantagens à Austrália, enquanto os Estados Unidos miram os países europeus.
A estimativa da AEB é que o Brasil tenha prejuízos de até US$ 2 bilhões este ano no mercado internacional, influenciado tanto pelas restrições como por uma provável queda do preço da carne brasileira.
O preço da carne brasileira já era relativamente baixo, segundo Castro. Os preços de frango, carne bovina e suína tinham recuado, em média, 25% entre 2011 e 2016.
No último ano, os frigoríficos brasileiros vinham conseguindo vender a preços melhores, com aumento de 40% no preço da carne suína, 20% do frango e 10% da carne bovina.
“Espera-se que essa valorização seja toda perdida”, lamenta Castro.
O que pode salvar o mercado brasileiro é a dificuldade de outros países de produzir a quantidade que o Brasil hoje exporta.
“O Brasil é o maior produtor de carne de frango e de longe o maior exportador, então acho improvável que alguém consiga substituí-lo”, afirmou à BBC Brasil Liz Murphy, CEO da Associação Internacional de Comércio de Carnes (IMTA, na sigla em inglês).
Além disso, países exportadores enfrentam seus próprios desafios para competir internacionalmente.
A Austrália, segundo maior exportador de carne bovina, recupera-se de uma forte seca no último ano, que afetou rebanhos e elevou os preços do seu produto.
Já os Estados Unidos enfrentam um surto de gripe aviária. E, antes da crise, o país era visto, inclusive, como oportunidade para o mercado brasileiro.
Argentina, Irlanda e NZ
A Argentina também tem expectativas: a Câmara Argentina de Feedlot (pecuária intensiva) afirmou à agência Diarios y Noticias (DyN) que o país vizinho “não teria dificuldade” em colocar seus produtos na Europa e em países asiáticos depois do que ocorreu no Brasil.
E a Câmara da Indústria da Carne (Cicra, na sigla em espanhol) afirmou ao jornal Clarín que espera ampliar a exportação ao Chile.
O empecilho, neste caso, é a valorização do produto. A boa fama do bife argentino o torna até 15% mais caro que o brasileiro.
Além do preço, a Argentina não tem excedente suficiente para vender a outros países, segundo José Augusto de Castro e a Confederação Rural Argentina, citada no DyN.
Ao mesmo tempo, o país abriga frigoríficos controlados pela BRF, uma das empresas afetadas pela operação Carne Fraca da Polícia Federal.
Disputa na Europa
Dados da Comissão Europeia mostram que a Europa importou 140 mil toneladas de carne brasileiraem 2016, cerca de 40% do total.
Assim que o escândalo veio à tona, associações irlandesas de produtores de carne cobraram a proibição de importações de carne brasileira pela União Europeia.