As empresas de máquinas e implementos agrícolas do Brasil estão sendo cada vez mais cobiçadas por grupos estrangeiros. Com a agricultura nacional em expansão, o mercado aquecido e o dólar em queda, grupos nacionais com marcas reconhecidas, rede de distribuição formada e carteira de clientes estabelecida estão sendo procurados por empresas europeias e asiáticas para criação de parcerias para comercialização no Brasil.
Pelas propostas, as empresas estrangeiras ficam responsáveis pela fabricação das máquinas e implementos e os grupos nacionais pela venda e distribuição, por meio da importação dessas máquinas. A ideia é aproveitar o real valorizado e os custos de produção inferiores aos brasileiros para atender à demanda doméstica aquecida por máquinas.
“O custo no Brasil está tão alto que esse tipo de proposta não vem mais de empresas chinesas, acabamos de recusar uma proposta de uma empresa italiana”, afirma Celso Casale, diretor-presidente da Casale Equipamentos e também da Câmara Setorial de Máquinas Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “O problema é que com o passar do tempo, esse tipo de proposta começa a ficar cada vez mais tentadora”, afirma.
De acordo com Casale, não é apenas a sua empresa que tem recebido esse tipo de proposta nos últimos meses. Sem citar nomes, ele diz que outros grupos nacionais de máquinas e equipamentos agrícolas também receberam propostas semelhantes. Isso eleva o risco de um desestímulo à produção no Brasil.
Alguns números de 2010 explicam em parte a exposição que as empresas nacionais passaram a ter. Em setembro, as importações de máquinas e implementos agrícolas atingiram um dos mais altos níveis mensais do setor, com compras de US$ 49,7 milhões. O valor supera em 32,5% o desempenho de agosto deste ano e em 128,3% o resultado de setembro de 2009. Eliminando o efeito da crise no ano passado, as importações ainda superam em 38% o resultado de setembro de 2008.
“Para concorrer com os produtos importados, estamos reduzindo as margens, que hoje no setor não chegam a 10%. Isso é pouco para uma indústria que depende de investimentos em inovação e desenvolvimento, o que custa muto”, diz Casale.
Nas exportações, a situação se inverte. Os US$ 68,3 milhões obtidos em setembro representam uma queda de 15,1% sobre agosto, mas um crescimento de 37,5% ante setembro de 2009, quando a crise ainda mostrava seus efeitos. O resultado ainda está aquém do obtido em 2008, quando as vendas externas somaram US$ 93,6 milhões em setembro.
Apesar das dificuldades, a indústrias de máquinas e implementos agrícolas deve fechar 2010 com um crescimento de 30% sobre as vendas totais de 2009, mas ainda abaixo de 2008, ano de recorde para o setor no Brasil. No ano passado, o resultado – que inclui mercado interno e exportação – foi de R$ 5,98 bilhões, queda de 28,2% sobre as vendas do ano anterior.