Redação AI 27/09/2002 – Charles Doux, presidente da francesa Doux, diz que maior oferta de aves do Brasil prejudica negócios. O presidente do grupo francês Doux, Charles Doux, fez um alerta a autoridades e lideranças brasileiras do setor de carnes que propalam as vantagens competitivas do País na hora de competir no mercado externo. A Doux, que comanda o conglomerado líder em exportações de carne de aves na Europa e um dos três maiores do mundo, não contesta os trunfos do Brasil, mas entende que o excesso de euforia, quando manifestado, atrapalha.
Em passagem pelo Rio Grande do Sul, onde o grupo controla a Doux Frangosul, o francês vê duas conseqüências negativas nesta atitude. “Os produtores dos países importadores começam a ficar preocupados e os governos tomam medidas protecionistas. Os brasileiros, entusiasmados, aumentam a produção”, diz Doux. O resultado é uma maior oferta não assimilada pelas exportações, derrubando os preços da carne.
No entanto, a companhia francesa Doux é umas das líderes protecionistas na União Européia.
Protecionismo
Um dos exemplos citados pelo empresário foi um decreto editado no final de julho pelo governo da Arábia Saudita que proibia a importação de carne de aves provenientes da Europa. Em seguida, apareceram declarações de lideranças do setor entendendo que o Brasil poderia abocanhar maior fatia de mercado. Como o problema sanitário que originou a proibição sequer tinha conexão com carne de aves, a questão foi resolvida sem maiores dificuldades e as vendas da Europa, especialmente da França para Arábia Saudita, foram retomadas semana passada. As marcas Doux e Frangosul são líderes no país, com 40% do mercado local. Os sauditas são hoje um dos três principais importadores do Brasil, atrás da Rússia e do Japão.
O presidente da Doux Frangosul, José Augusto Lima de Sá, entende que algo semelhante ocorreu este ano em Santa Catarina, prejudicando a cadeia produtiva da suinocultura. Como se esperava uma abertura da carne suína catarinense para a UE, a produção de animais cresceu. Os frigoríficos, entretanto, não foram aprovados na vistoria, o que gerou uma superoferta e queda dos preços.
No ano passado, o Brasil produziu 6,5 milhões de toneladas de carne e exportou 1,25 milhão de toneladas. Em 2002, a produção deve crescer 10%, passando para 7,1 milhões de toneladas. As exportações, entretanto, devem subir apenas 4%, para 1,3 milhão de toneladas. “Entre abril e maio deste ano, vendemos (no mercado interno) carne de frango a 80% do custo. Fruto da superoferta, de leituras errôneas e entusiasmadas”, diz Lima de Sá.
“O Brasil tende a ser ufanista demais. Num plano isento, isso não se constituiria em uma ameaça. Mas não existe um clima isento, e sim tendencioso. Isso provoca reações protecionistas. Qualquer estudo técnico vai mostrar que realmente somos competitivos. Mas o melhor é ser bom, quieto”, diz Lima de Sá.
Em virtude desta onda protecionista, muitas vezes disfarçada de exigência sanitária, Doux ainda alerta “para que o Brasil não seja pego de surpresa”. O francês reconhece a qualidade do serviço sanitário brasileiro, mas pede responsabilidade a todas as empresas exportadoras nacionais, temendo que um fato isolado acabe prejudicando todo o produto com origem no País. Ao mesmo tempo, o setor também se deparou com o aumento dos custos de produção devido à alta da soja e milho, principais insumos do setor, crescimento que encontra dificuldades para ser repassado ao mercado interno em virtude de a renda do consumidor brasileiro não ter evoluído.
Abate
A Doux Frangosul abate hoje cerca de 1 milhão de frangos e três mil suínos por dia. Aproximadamente 60% da produção é voltada para a exportação. A subsidiária brasileira do grupo francês deve fechar o ano com um faturamento de R$ 1,1 bilhão, triplicando o resultado de quatro anos atrás (R$ 380 milhões), quando a Frangosul foi adquirida pela Doux.