Grandes empresas brasileiras começaram a usar no primeiro semestre um mecanismo que permite manter no exterior parte das receitas com exportações. Em meio à recente valorização do real, muitas têm preferido manter o dinheiro no exterior à espera de um momento mais favorável para a companhia. Essa estratégia tem influenciado o resultado do fluxo de dólares para o Brasil.
Somente em junho, exportadores deixaram cerca de US$ 5,2 bilhões no exterior. No primeiro semestre de 2009, o volume mantido lá fora somou US$ 13,2 bilhões, de acordo com os dados divulgados ontem (27/07) pelo Banco Central. Pelas regras atuais, exportadores não são obrigados a trazer para o Brasil os dólares recebidos com vendas no exterior. Os recursos podem ficar fora do País para pagar, por exemplo, dívidas ou fornecedores internacionais.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, essas empresas têm “razões econômicas” para deixar o dinheiro fora do País.
Um das possíveis razões seria o pagamento de dívidas, como as importações. Para uma empresa que exporta e importa, manter os dólares serve como proteção contra as variações cambiais, o chamado “hedge”.
Dessa forma, a exportadora pode receber os dólares dos compradores internacionais e manter o dinheiro em conta no exterior. Os recursos ficam depositados até o vencimento de uma dívida internacional da mesma companhia. Quando isso ocorre, os recursos são transferidos para a conta da empresa no Brasil e, em seguida, a companhia paga o compromisso no exterior. A transferência para a conta brasileira é necessária porque a dívida é com a companhia no País e não, por exemplo, com a subsidiária no exterior.
Como a empresa já tem os dólares, “ao invés de ir ao mercado, ela traz o dinheiro que estava no exterior”, disse Altamir Lopes. Ao manter o dinheiro em dólares, a companhia evita qualquer perda por variação cambial. Segundo o técnico do BC, contudo, o saldo dessa engenharia financeira é zero, em termos de impacto na cotação do câmbio.