No final da tarde desta quarta, dia 15, a angústia tomou conta de uma família no interior do município de Água Santa, no norte do Rio Grande do Sul. Sem ração há três dias, os 18 mil frangos de um dos aviários da propriedade começaram a comer uns aos outros. Abatidos pela fome, cerca de três mil morreram.
“O canibalismo é um comportamento normal quando os frangos sentem fome. Os animais mais fortes atacam os mais fracos”, explica o professor Elci Dickel, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Passo Fundo.
A família Santos, que tem 36 mil animais em dois aviários, fornece aves há mais de 10 anos para a Doux Frangosul. Diariamente, necessita de sete mil quilos de ração para garantir a alimentação dos frangos. Nos últimos 15 dias, recebeu 56,5 mil quilos, o suficiente para apenas oito dias.
O patriarca Argeni Santos, 48 anos, conta que a ração acabou no domingo. Na manhã de quarta, sete mil quilos foram entregues na propriedade, mas nenhuma garantia foi dada para o dia seguinte.
Fetag pressiona empresa na busca de solução
O problema não se restringe aos criadores de Água Santa. Segundo cálculos da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), cerca de dois mil produtores gaúchos ligados à Doux sofrem com remessas insuficientes de ração e atrasos nos pagamentos. Por meio do contrato de integração avícola, os criadores cedem estrutura em troca das aves e rações. Quando entregam os animais, recebem pela produção.
“Em média, a cada 30 dias a empresa paga pelo lote de aves. Temos registros de atrasos que passam de 120 dias”, alerta Elton Weber, presidente da Fetag.
A entidade mantém contato diário com a Doux e espera para esta quinta uma posição da companhia. Como a empresa não teria cumprido os últimos cinco acordos, alguns produtores ameaçam recorrer ao Ministério Público.
O que diz a Doux Frangosul, em nota
“A Doux Frangosul esclarece que está empenhada em regularizar os prazos com os integrados no menor tempo possível e reafirma seu compromisso com suas operações no Brasil.
Em relação ao abastecimento de rações, a empresa comunica que enfrentou problemas de produção em sua fábrica de Nova Bassano na última semana, o que ocasionou desequilíbrio no abastecimento dos integrados. A questão foi contornada, e a fábrica já está com sua produção normalizada. A empresa afirma que está fazendo todos os esforços para que o abastecimento dos integrados esteja operando normalmente até o final de semana”.