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Frigoríficos

Frigoríficos costuram opções à consolidação

<p>Em busca de alternativas, empresas de carne buscam parcerias com grupos estrangeiros, planejam associações com concorrentes e mantêm o olhar em eventuais incorporações.</p>

A onda de fusões, aquisições e investimentos no segmento de carnes abriu novos horizontes para os pequenos e médios frigoríficos brasileiros. Em busca de alternativas diante da crescente concentração de mercado liderada pelos grupos JBS e Marfrig, as empresas de carne em geral aceleram negociações em busca de parcerias com grupos estrangeiros, planejam associações com concorrentes e mantêm o olhar em eventuais incorporações.

Os estímulos para esses movimentos, identificados na maior feira mundial da indústria de alimentos (Anuga), na Alemanha, incluem a preocupação dos clientes com a diversificação de seus fornecedores no Brasil, a aposta em ganhos imediatos e a confiança na ampliação da demanda global por proteína animal. “Temos caixa. E o momento é interessante, porque o mercado ainda tem que digerir os últimos movimentos”, afirma o presidente do Minerva, Fernando Galetti Queiroz, ao Valor.

O Minerva, cuja capacidade de abate soma 6,6 mil cabeças de bovinos por dia, considera novas incursões no segmento, mas mantém a cautela: “Temos um plano de investimentos em andamento e nada impede uma revisão. Mas desde que tenha estrutura de capital. E sem alavancagens”, afirma Galetti. “Crescer é uma opção, não uma obrigação. Não temos nenhum complexo de tamanho”. A empresa é a terceira força no mercado brasileiro, amplamente dominado pelos 40 mil abates diários da JBS e os 22,4 mil da Marfrig. Como os dois colossos, o Minerva tem ações negociadas em bolsa.

A construção de uma “terceira via” entre os grandes grupos, avaliam os empresários, ajudará a turbinar os negócios porque nenhum importador quer ficar na mão de uma fornecedora apenas. “Os clientes não querem ser apenas um número. Querem produto e atendimento personalizado. Foi a melhor feira para nós”, diz um dos herdeiros do frigorífico Tatuibi, Marco Bindilatti. Como superintendente de exportação, ele revela interesse em forjar uma aliança em alguns serviços com empresas concorrentes. “Cada um mantém sua marca, mas podemos nos associar para reduzir custos com frete, porto, embalagens e até compartilhar equipes de vendas no exterior”. O Tatuibi fatura R$ 600 milhões com o abate de 1,5 mil cabeças diárias em três unidades.

Importadores russos temem a concentração. Tanto que pediram uma nova lista de frigoríficos ao Ministério da Agricultura na tentativa de ampliar os fornecedores. E estiveram na feira de Anuga para expressar essa preocupação. “Eles sabem que hoje o preço no grande é melhor, mas se os pequenos sumirem isso vai mudar”, afirma a gerente de exportação do Frigol, Marina Oliveira Cançado.

Na última feira de Anuga, há dois anos, os importadores rejeitam pagamento antecipado pelo produto, lembra a executiva. “Neste ano, mudou tudo. Eles aceitam sem reclamar porque estão preocupados em garantir uma alternativa de fornecimento”. O Frigol tem capacidade para abater 2 mil cabeças por dia, fatura R$ 790 milhões por ano e já fecha contratos de longo prazo para fornecer seus produtos.

Os executivos veem no momento de consolidação do segmento algumas oportunidades de crescer no vácuo dos novos gigantes. “À sombra se cresce melhor do que no sol”, filosofa o dono do Frialto, o paranaense Paulo Bellincanta. Visto no setor como “redondo” para ser comprado, sobretudo se o movimento partir do Minerva, o Frialto quer resistir com joint ventures com companhias estrangeiras. Sem revelar nomes, Bellincanta aposta na corrida de europeus, asiáticos e americanos ao Brasil.

“Podemos nos consolidar no segmento dos médios, mas precisamos mais do que associação local. Temos que ampliar presença e valor internacional”, afirma o executivo, que cita a sociedade do Minerva com a Down Farms na Europa como um eventual modelo.

O Frialto fatura R$ 1,2 bilhão, conta com cinco unidades, tem capacidade para abater 4,3 mil bois por dia e vende para os cobiçados mercados da União Europeia, Rússia, Oriente Médio. E defende que é hora de ousadia: “Não posso pensar em ser o único dono. Fui procurado várias vezes e estou estudando fazer um pedaço aqui e outro lá”, diz, em referência ao Brasil. A estratégia, por enquanto, é aumentar o confinamento próprio de bois no País para garantir matéria-prima farta e preço baixo.

Parte dos frigoríficos nacionais se espelha na estratégia agressiva da Marfrig na área de aves e vê aí uma receita para o avanço de suas operações. Ao comprar a Seara, divisão brasileira de carnes da americana Cargill, a Marfrig aumentou o cacife para não ficar muito longe da líder Brasil Foods, fruto da incorporação da Sadia pela Perdigão.

Impedido de comentar novos negócios por causa de uma oferta primária de ações em curso, o presidente da Marfrig, Marcos Molina dos Santos, dá indicações do futuro próximo: “Estamos de férias por um ano”. A “digestão” das recentes operações, como o arrendamento de unidades dos frigoríficos Mercosul e Margen, deve ocupar o grupo por um tempo. Molina nega negociações com a francesa Doux para avançar ainda mais em aves. “Não tem nada mesmo. Mais do que isso, não posso falar”, afirma.

Quem acompanha de perto o segmento também lembra do papel das empresas em recuperação judicial para o desenho final da consolidação. O maior deles, o Independência, ainda pode ser adquirido por JBS e Marfrig. As plantas de Arantes, Frigoestrela e Quatro Marcos, além do Margen, permanecem como parte do jogo.

A consolidação do segmento entusiasma os dirigentes. “O setor está dominado, da produção à venda, pela indústria nacional. A carne, como o petróleo, é nossa”, diz o presidente da associação dos exportadores de carne (Abiec), Roberto Giannetti da Fonseca. “Está cedo para dizer que foi um sucesso absoluto, mas se as empresas não comprassem, seriam compradas”.

O executivo argumenta que os benefícios econômicos das aquisições e da transformação de JBS e Marfrig em grandes “players” internacionais foram importantes para o ramo. “Nossas marcas agora são internacionais e ganhamos com a profissionalização da gestão e o compromisso com a questão ambiental”, diz