Dois anos depois de anunciada a fusão entre Sadia e Perdigão — que resultou na BRF-Brasil Foods —, as duas maiores produtoras de carnes de aves e suínos do país, a cidade de Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, vive a expectativa sobre a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Se outras empresas do setor temem uma concorrência desleal e predatória com uma gigante do porte da BRF-Brasil Foods, os trabalhadores apontam as dificuldades em convencer a companhia a melhorar as condições de trabalho. Mutilações e enfermidades causadas pelo frenético ritmo de produção levaram ao afastamento de 2.158 trabalhadores dos 6.900 da fábrica da Sadia na cidade nos últimos três anos.
Os baixos salários, somados a esses problemas de saúde sofridos pelos funcionários da Sadia na unidade de Chapecó, não têm atraído novos trabalhadores. A empresa, para manter a produção, tem buscado mão de obra em cidades distantes até 200 quilômetros da fábrica. Ela vem recrutando até índios na região. Nessa unidade são abatidos cerca de cinco mil suínos e pelo menos 400 mil frangos e perus por dia.
Empresa se comprometeu a desacelerar ritmo em 10%
Segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados de Chapecó (Sitracarnes), o número de funcionários afastados por doenças ou lesões ocupacionais na cidade é o maior entre todas as fábricas da Sadia no país.
As condições de trabalho na unidade e o grande número de afastados mereceram uma investigação do Ministério Público de Trabalho (MPT), que acabou em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). A investigação foi iniciada em 2009, e o TAC foi assinado em março deste ano. Além de pagar uma indenização no valor de R$ 2 milhões, a Sadia se comprometeu a rever a jornada de trabalho, com redução em 10%, por exemplo, no ritmo de produção nas áreas de desossa até 2013.
Até a chegada do Ministério Público, os funcionários tinham de destroçar um frango sob água gelada a cada oito segundos na linha de produção. A situação não melhorou muito, mas o sindicato conseguiu que os trabalhadores tenham cinco intervalos de 8 minutos ao longo da jornada, que é de 8 horas e 48 minutos por dia.
Sindicato quer piso de R$ 890, Sadia oferece R$ 750
De acordo com o presidente do sindicato, Jenir Ponciano de Paula, o próximo desafio é convencer a direção da empresa a melhorar o piso salarial dos trabalhadores, que hoje está em R$ 701. Em plena negociação com a empresa, o sindicato quer propor um piso de R$ 890, reposição da inflação (6,44%) e 8% de aumento real. A empresa oferece piso de R$ 750 e reajuste de 7%.
” Já existe uma falta generalizada de candidatos para as vagas na indústria da carne de Chapecó. Com esse salário, muito em breve nem os índios vão querer trabalhar aqui” disse De Paula.