O grupo Mantiqueira, maior produtor de ovos de galinha do país, concluiu a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) que captou R$ 230 milhões para acelerar seu processo de expansão. O dinheiro vai financiar a construção de três novas granjas com tecnologia 4.0. As unidades serão capazes de aumentar em 30% a capacidade produtiva da empresa mineira, que hoje conta com 11,4 milhões de aves no plantel e produz 2,7 bilhões de ovos por ano.
As novas unidades serão para a produção sem o uso de gaiola e seguirão normas rígidas de bem-estar animal. As granjas também serão equipadas com sensores e robôs que tornarão a produção totalmente automatizada. O objetivo é dar escala e democratizar o acesso aos ovos produzidos nesse sistema, que começarão a sair de uma nova granja modelo “4.0” em Lorena (SP) a partir de dezembro.
“Serão feitas novas unidades para podermos ter mais capilaridade no Centro-Sul e atender melhor nossos clientes, acelerando o crescimento em regiões onde já temos os terrenos”, afirmou Leandro Pinto, fundador e presidente da Mantiqueira.
Em outubro, a empresa anunciou o investimento de R$ 100 milhões na unidade de Lorena. Os R$ 230 milhões da operação com CRA, a maior captação da Mantiqueira – e que superou os R$ 150 milhões projetados inicialmente -, serão destinados à construção da unidade em Campanha (MG) e outras duas em locais não revelados, no Sul e no Centro-Oeste. “Os recursos podem incrementar em, no mínimo, 30% a produção que temos hoje”, disse Pinto.
Treze investidores participaram da captação, entre eles os principais bancos do país e fundos focados em critérios de sustentabilidade. O CRA, coordenado pela XP e pelo Itaú BBA, não foi vinculado a nenhum compromisso sustentável, mas despertou o interesse do mercado devido aos resultados da empresa nessa área, avaliou Pinto. Segundo ele, a demanda acima da oferta no título reflete o histórico de ações de ESG do grupo. “Apesar de não ter o selo [verde na operação], todo o dinheiro será usado para honrar o DNA de sustentabilidade do grupo”, disse.
Também haverá aporte na fabricação de fertilizante orgânico feito a partir do esterco das galinhas. Já são 150 mil toneladas produzidas nas granjas do grupo. O insumo, chamado de “ouro negro” pelo presidente da Mantiqueira, é usado nas áreas de cultivo de grãos em Minas Gerais e Mato Grosso e vendido para empresas desses Estados, como usinas de açúcar.
“Tão grande quanto é a avicultura também será a parte de fertilizantes orgânicos e minerais que está na nossa estratégia”, destacou o executivo. Com a previsão de inaugurar três “lojas conceito” em São Paulo, a Mantiqueira também espera atender o mercado paulista com o composto orgânico certificado pelo IBD, maior certificadora de produtos orgânicos da América Latina.
Atualmente, a Mantiqueira tem quatro granjas em operação. A unidade de Cabrália Paulista (SP) já produz no sistema livre de gaiolas, que será implementado em todos os novos empreendimentos do grupo, que tem 2,2 mil funcionários.
“Não existe mais meio termo. Ou você é ESG ou não é, não tem mais chance de não ser, você vai ser cobrado. Se você quer jogar Champions League terá que ser ESG, mas se quer jogar um campeonato de várzea, não”, compara Pinto. O “grande gol” nessa competição, segundo ele, será conseguir dar escala à produção para atender todo o país em dez a 15 anos.