A situação de pleno emprego nas linhas de produção é uma realidade em Santa Catarina. Com mais de 20.000 trabalhadores em seu quadro funcional, a Coopercentral Aurora Alimentos, sediada em Chapecó (SC), apresenta uma das maiores diversidades étnicas e foi uma das primeiras empresas a contratar haitianos no sul do Brasil. Atualmente, mantém 290 haitianos e 420 indígenas, além de 20 conveniados (apenados).
O vice-presidente Neivor Canton enfatiza que existem quase mil vagas nas linhas operacionais que os processos de recrutamento, seleção e admissão de brasileiros não conseguem suprir. “Optamos em contratar mão de obra estrangeira por falta de interessados no Brasil”, resume o dirigente.
Os primeiros imigrantes chegaram na Aurora em 2010, vindos por conta e risco, fugindo da sucessão de tragédias climáticas (terremotos), econômicas (crise e falência do país) e políticas do Haiti (ditaduras e opressão). A excelente impressão que causaram em razão da disciplina, da vocação para o trabalho e da adaptação ao novo ambiente estimularam a Coopercentral a recrutar mais candidatos, relata o gerente de recursos humanos Nelson Paulo Rossi.
Para receber os futuros colaboradores, a Aurora envia uma missão de psicólogos, assistentes sociais e enfermeiras até Brasiléia, no Acre, porta de entrada dos haitianos, distante 3.750 quilômetros. Graças a ação coordenada pelo Ministério do Trabalho e Ministério da Justiça, eles ingressam em território brasileiro com todas as proteções legais: visto provisório por seis meses, cédula de identidade, CPF e carteira do trabalho. Após meio ano, a própria empresa encaminha a renovação do visto, o que ocorre automaticamente, a menos que o trabalhador tenha cometido alguma transgressão de natureza criminal que originou passagem pela Polícia.
Nas unidades industriais da Aurora, eles assumem os postos de auxiliar de produção I, II e III. Além de salário compatível com a função, em torno de mil reais, a Aurora oferece nos primeiros seis meses todas as refeições, alojamento e assistência médica ambulatorial. A operação completa de integração leva 60 dias. O idioma é um obstáculo superável: a maioria fala francês, muitos também falam espanhol e, alguns, o inglês.
Para suprir as carências materiais desses novos colaboradores, a Fundação Aury Luiz Bodanese, braço social-assistencial da Coopercentral Aurora Alimentos, promove campanhas para arrecadação de roupas, agasalhos, móveis, etc, para a formação desses novos lares.
Os conveniados (apenados) que a Aurora contrata, todos sob o regime semiaberto, pernoitam na Penitenciária Estadual de Chapecó. Os indígenas que ocupam atividades laborais na Aurora são, em sua maioria, descendentes dos kaingangues das reservas localizadas no oeste catarinense e no noroeste sul-rio-grandense.
A Aurora utiliza, atualmente, 220 ônibus para transportar 6.400 trabalhadores por dia que residem de 30 a 150 quilômetros distantes das unidades onde trabalham.