No auge da oferta de crédito no mercado, em 2007, o frigorífico Minerva não sucumbiu à tentação de ampliar capacidade via aquisições, como fizeram várias empresas do setor. Optou pelo crescimento orgânico, mantendo os investimentos no chamado “greenfield”. A empresa, que faturou R$ 2,772 bilhões ano passado, foi tachada de conservadora. “Somos conservadores e considero isso uma virtude”, afirma o diretor-presidente da empresa, Fernando Galletti de Queiroz.
No segundo semestre do ano passado, quando a consolidação do setor de carne bovina ganhou contornos mais fortes, principalmente após a incorporação da Bertin pela JBS, os olhos do mercado se voltaram para o Minerva, como possível alvo ou comprador. Até que, nas últimas semanas, surgiram informações sobre uma eventual fusão entre Minerva e Marfrig, o que o empresário nega. “Não estamos em conversação com ninguém”, garante.
De acordo com Queiroz, as estratégias das companhias atualmente “são tão heterogêneas que é improvável uma fusão” do Minerva com outra empresa. Enquanto outras companhias se diversificaram, o Minerva focou em bovinos. Ele admite, porém, que a consolidação do setor deve continuar.
Na visão de Queiroz, o momento, para o Minerva, é de colher os frutos dos investimentos feitos nos últimos anos. Mas, “se aparecerem oportunidades, dentro da estratégia [da empresa], faremos movimentos em aquisições, na hora certa e pelo valor certo”, afirma, lembrando que no começo deste ano, o frigorífico firmou contrato para a compra de uma planta de abate de bovinos em Campina Verde (MG), com capacidade de abate de 700 cabeças por dia.
Há pouco mais de dois anos, a opção da companhia foi “fazer a partir do zero”, isto é, construir unidades, em vez de comprar ativos disputados e caros. “Era mais econômico”, diz Queiroz. Segundo ele, “a lógica [naquele período] deixou de ser a rentabilidade para ser capacidade instalada. Não compramos essa história”, declara.
De acordo com o empresário, os aportes em novas plantas em Redenção (PA) e em Rolim de Moura (RO), na ampliação da capacidade de abate em Araguaína (TO) e expansões em Barretos (SP), Goianésia (GO) e Baitaporã (MS) permitirão à companhia elevar em 20% sua capacidade instalada este ano. A capacidade atual do Minerva é de um abate de 8.240 cabeças por dia e processamento de 1.730 toneladas de carne bovina.
Os investimentos dos últimos dois anos – só em 2009, foram R$ 127,9 milhões – entram em maturação agora e em 2011, de acordo o diretor-presidente, num período que ele chama de “ciclo positivo de oferta e demanda”. Seu otimismo se baseia na expectativa de uma maior oferta de animais para abate, já que há três anos o descarte de fêmeas vem diminuindo, e na previsão de uma boa demanda no mercado interno e melhora nas exportações de carne bovina, principalmente para a União Europeia.
Esse mercado, para onde as vendas ficaram restritas nos últimos dois anos, é um dos mais importantes para o Brasil e para o Minerva. Não à toa, a empresa acaba de criar uma subsidiária na Itália, para agilizar as exportações para a Europa.
Além da expectativa de retomada das exportações, o Minerva, que tem 60% de suas receitas provenientes do mercado externo, espera também ampliar a comercialização de produtos de maior valor agregado este ano. Isso deve ocorrer, segundo Fernando Queiroz, com a aceleração das operações da MDF – Minerva Dawn Farms – joint venture com a irlandesa Dawn Farms, criada em 2008. A planta, em Barretos, processa carnes bovina, suína e de aves e atende principalmente o food service.
A opção do Minerva por uma estratégia mais cautelosa de crescimento é vista como positiva por alguns analistas do mercado. A lógica é que os desafios operacionais de Marfrig e JBS são maiores que os do Minerva, já que ambos têm a tarefa de integrar as aquisições recentes – no caso da Marfrig, a Seara, e da JBS, a Bertin.
“A convergência das empresas vai ocorrer e vai mostrar quais foram as melhores estratégias”, prevê o presidente do Minerva.