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Agroindústrias

Impasse em unidade da BRF

Futuro de unidade da Brasil Foods inquieta trabalhadores em Carambeí. Empresa vai vender área de suínos na cidade do Paraná.

Desde que a BRF Brasil Foods anunciou que vai vender a área de suínos que possui em Carambeí (PR), surgiu no município a curiosidade sobre como ela será separada da divisão avícola, com a qual compartilha o terreno e parte da estrutura predial.

“Ouvi dizer que vão fazer outro muro, mas para isso vão ter de passar por dentro da fábrica”, conta um dos empregados da unidade. O comentário remete ao que aconteceu no passado no mesmo local. Quando a Perdigão comprou o frigorífico Batávia, 11 anos atrás, um muro foi construído para dividir a área de carne da láctea, então administrada pela Parmalat e três cooperativas paranaenses. Depois, em 2006, ela adquiriu todo o complexo e os acessos internos foram refeitos. Agora, tudo indica que a solução vai exigir mais do que um muro.

“Não sabemos o que vai acontecer, mas é fato que a parte de suínos não foi planejada pensando em desmembramento”, afirma Wagner Rodrigues, diretor de organização do sindicato dos trabalhadores na indústria da alimentação da cidade (Sintac).

Dos 4,8 mil empregados da unidade, cerca de 1 mil vão ganhar novo patrão, porque a BRF assumiu uma série de compromissos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Mas, hoje, todos eles usam a mesma portaria, o mesmo refeitório e o mesmo transporte. A recepção, o estacionamento e o almoxarifado também são compartilhados, e só há uma estrutura para a caldeira e o tratamento de água. “Vejo uma dificuldade enorme para dividir tudo. O túnel de carregamento e congelamento é único”, diz Rodrigues.

A solução para separar a estrutura não é a única preocupação em Carambeí. “Vocês querem falar da confusão?”, pergunta um empregado, a respeito da fusão da Perdigão com a Sadia. Um dos temores é sobre o prazo de garantia de emprego – seis meses após a venda -, considerado curto, e outro é sobre a manutenção de benefícios.

Boa parte da equipe está acostumada a mudanças. Desde 1998, eles viram a entrada da Parmalat na sociedade com as cooperativas de imigrantes holandeses que criaram a marca Batavo, em 1911. Viram as cooperativas retomar o controle após a crise financeira da Parmalat, acompanharam a chegada a Perdigão como sócia, em seguida como dona e, por último, a criação da BRF. Nesse tempo, mudou também o portfólio de produtos. Perus, que eram o forte, foram substituídos por frangos em 2010.

“Achava que iam vender tudo. Por que só suínos?”, questiona outra empregada, que foi contratada para trabalhar com perus e, hoje, está na produção de linguiças. “Estamos meio inseguros”, comenta outro. “Dizem que vão fazer outro muro e há comentários de que o novo refeitório vai ser longe”, é o que conta mais um rapaz na entrada do segundo turno, acrescentando que hoje só um corredor separa frangos de suínos. Em Carambeí, a BRF abate 1,7 mil suínos e 550 mil frangos por dia. Em reunião com a equipe e sindicalistas, representantes da empresa garantiram que nada mudará até o fim do ano.

Sobre os receios dos empregados e a dificuldade de separar os suínos em Carambeí, a gerência de comunicação da BRF informou que a empresa está trabalhando no que é chamado internamente de “desplugamento”. Ela vai precisar separar as unidades do sistema BRF – são 10 fábricas de alimentos, oito centros de distribuição, quatro abatedouros, quatro fábricas de ração, 12 granjas e dois incubatórios, além de algumas marcas que deixarão de ser usadas. Tarefa que a empresa classifica como difícil, mas necessária. Segundo a companhia, 40 engenheiros percorrem as unidades para preparar os ajustes. Em alguns casos, será preciso ficar ao lado do concorrente, mas não está descartada a possibilidade de construção de novos prédios para transferir estruturas de produção.

A intenção da empresa é ter tudo desenhado até o fim do ano e a venda dos ativos deve acontecer até meados de 2012. De acordo com a BRF, o trabalho está sendo feito em três frentes: o desplugamento de unidades, a transferência de produtores integrados que passarão a fornecer à outra empresa e a transferência de empregados para o comprador.