A produção de suínos no Brasil, proporcionalmente ao agronegócio brasileiro, teve evolução de destaque com significativo aumento de escala produtiva, tanto em unidades individuais como crescimentos regionalizados.
De acordo com o Cepea, O PIB do agronegócio brasileiro cresceu 3,81% em 2019, uma alta importante após dois anos sucessivos de resultados pouco favoráveis ao setor, que vinha sofrendo com preços relativos cada vez menores. Com esse desempenho, em 2019, o PIB do agronegócio representou 21,4% do PIB brasileiro total, neste cenário, a contribuição da suinocultura foi de recorde de exportação com o volume de 750,3 mil toneladas entre in natura (649,38 mil ton.) e processados e um faturamento de US$ 1,597 bilhão (ABPA). Esse crescimento no agronegócio, colaborou para posicionar o país como uma das dez maiores economias mundiais.
Diversos são os fatores que colaboram para este crescimento, tais como as melhorias genéticas e estruturais, e expansão de fronteira agrícola. Todavia, este aumento de produção trouxe consequências, tais como a concentração de animais. Fato este que resultou em uma maior pressão sobre a sanidade animal, acarretando no surgimento de doenças transmissíveis, associados ao alto grau de vulnerabilidade das granjas.(MAROTO MARTÍN et al. 2010), pois problemas sanitários geralmente impactam sobre os indicadores produtivos e reduzem a disponibilidade do produto final.
Neste contexto, em meio as adequações estruturais, podemos citar a exemplo, a aprovação da lei de biosseguridade no estado do Paraná (Decreto Estadual n ° 12.029, de 1º de setembro de 2014 e PORTARIA Nº 265, DE 17 DE SETEMBRO DE 2018) que favoreceu ao estado em sua participação nas exportações no comercio mundial de alimentos.
Entender a biosseguridade e sua importância neste processo, é primordial para manutenção do desenvolvimento da atividade de forma sustentável e lucrativa. É uma ferramenta em crescente importância no agronegócio, e se mostra essencial para a sobrevivência das explorações tecnificadas (BARCELLOS et al., 2008). Podem ser denominadas como medidas de biosseguridade ações com o objetivo de impedir a entrada e disseminação de doenças, assim como ações que visam a otimização da produção, adequação ambiental e melhoria da qualidade do produto final (AMARAL et al., 2006).
Um ponto importante para refletir é o que nós pensamos ou acreditamos sobre biosseguridade e o que efetivamente realizamos. É fundamental saber como a sua granja está conectada aos diferentes elos da cadeia produtiva, para identificar e agir frente os fatores principais de biosseguridade. Protocolos de biosseguridade são fáceis de serem elaborados: a questão é sua execução no trabalho rotineiro da granja, tanto para prevenir a entrada de patógenos nas granjas, como para reduzir a multiplicação e transmissão dos agentes no interior do rebanho. Um erro frequente de produtores é se preocupar com a biosseguridade apenas em resposta a ocorrência de surtos de doença e não como medida preventiva (MORES, NELSON et al. 2018).
A suinocultura como uma atividade exercida intensivamente e em larga escala prioriza medidas que visem diminuir a dispersão de agentes infecciosos, melhorando sanidade do rebanho, reduzindo gastos e perdas por enfermidades. Portanto há acrescente necessidade de instituir programas de biosseguridade, desejando o controle ou erradicação de patógenos em uma granja.
Atualmente o desafio frente a agentes infecciosos, sejam emergentes ou reemergentes, bacterianos ou virais tem sido crescente, em proporção a maior produtividade das unidades principalmente quando não respeitado as limitações dos animais, sejam em espaço físico (densidade), disponibilidade de comedouros, bebedouros, qualidade de ar (ambiência), etc. Em consequência disso o uso de antibióticos e quimioterápicos tem acompanhado esse crescimento. Embora com essas valiosas ferramentas farmacológicas consigamos corrigir os desvios na rota produtiva, invariavelmente deixamos de aproveitar o pleno potencial zootécnico existente quando temos uma doença presente. Outro ponto crítico, e que vem sendo debatido sistematicamente, é que há uma tendência mundial para que o setor produtivo reduza significativamente o uso de antimicrobianos no controle de doenças, e isto já está se tornando uma barreira não tarifária a exportação.
Nesse sentido o segmento produtivo tem cada vez mais que se preocupar em garantir a saúde dos rebanhos, e nenhuma ferramenta será tão eficiente quanto a adoção de medidas de biosseguridade.
A exemplo da Peste Suína Africana (PSA) na China, as doenças estão trazendo novos desafios à toda cadeia produtiva suinícola não só ao Brasil, mas em todo o mundo. Esses desafios têm se revelado primordialmente de ordem sanitária, ou seja, prevenção, tratamento e controle de enfermidades que geram impacto econômico na produção e produtividade. As experiências práticas têm demonstrado que um sistema moderno de produção deve, obrigatoriamente, estar consorciado com um plano abrangente de biosseguridade. Esse plano de biosseguridade deve ser concebido adaptando-se à realidade de cada granja, de forma a obter o difícil consenso entre os interesses do proprietário, do médico-veterinário, da agroindústria, do mercado e do consumidor final.
Prevenção à entrada de doenças, parada na mudança dos padrões das enfermidades, melhoria de desempenho, redução do uso de medicamentos, redução das zoonoses, produção de carne suína de forma lucrativa são alguns dos benefícios da prática consistente da biosseguridade. Essas são razões mais que suficientes para discutir, arquitetar e implementar um plano prático de biosseguridade, contudo, ao elaborar um bom plano, devemos conhecer os desafios individuais de cada unidade, que respondam aos seguintes questionamentos:
• Quais os agentes presentes no plantel, sejam eles bacterianos e/ou virais?
• Qual a prevalência, mortalidade, custos com prevenção, tratamento, medidas de controle, efeitos no desempenho para cada agente?
• Quais os agentes que não desejamos a disseminação no plantel?
• Quais as fases na granja que estão colonizadas por um determinado agente e estão com forte desafio?
• Quais os animais na granja que estão clinicamente doentes por esses agentes?
• Qual a fonte de infecção dentro do plantel para cada agente de interesse?
Basicamente, as medidas de biosseguridade, dependem do conhecimento da sobrevivência dos agentes infecciosos fora do hospedeiro, da existência de portadores dos mecanismos de disseminação dos agentes, da movimentação de suínos entre diferentes rebanhos e de como cada granja está conectada com os diferentes elos da cadeia produtiva. Qualquer vetor (humano, roedores, insetos e outros animais, equipamentos, alimento, água, granjas vizinhas, sistema de dejetos, veículos, roupas, calçados entre outros) que porta matéria orgânica de suínos é potencial transmissor de patógenos.
O risco zero em biosseguridade não existe. Num país, região, empresa integradora de suínos ou mesmo sistema produtivo, os investimentos devem ser direcionados para controlar os maiores riscos como: fornecedores de animais/sêmen, a origem e mistura de leitões, isolamento da granja com barreira física (cerca telada) que impeça a entrada de pessoas, veículos e outros animais, distância de outra granja de suínos/laboratório/abatedouro, disponibilidade de roupa e calçado de uso exclusivo da unidade produtora e respeito ao vazio sanitário dos colaboradores e visitante. Contudo, pequenos riscos, porém frequentes em alguns rebanhos, também devem ser controlados. Então, os protocolos de biosseguridade devem se adequar ao modelo produtivo, à escala de produção e a organização produtiva (integrações) sempre, porém respeitando medidas básicas, como: controle de acessos / isolamento (acesso de veículo / cercas / barreira vegetal), banhos, transporte de animais, introdução de animais na granja bem como sua origem, espaço de alojamento (densidades), disponibilidade de qualidade de alimentos (ração e água), ambiência (instalação / temperatura / gases) controle de vetores, entre outros.
No brasil, apenas granjas multiplicadoras de genética, possuem normativa oficial, na qual constam critérios específicos de biosseguridade. A fim de colaborar e orientar produtores e demais interessados, a desenvolver padrões de biosseguridade para suas unidades a Embrapa Suínos e Aves elaborou um trabalho abordando aspectos relevantes de biosseguridade externa para as granjas que produzem suínos para abate.
Cabe aos profissionais envolvidos em toda a cadeia produtiva a aplicação correta das medidas de biosseguridade para que a suinocultura brasileira atinja o máximo das exigências dos padrões mundial, possibilitando assim ampliação ainda maior de sua participação no mercado.
Frente a todos os desafios, sejam sanitários, e exigências de mercado (restrições ao uso de antimicrobianos / normas de exportação), aliado a pressão por melhores custos de produção, as técnicas de biosseguridade são ferramentas indispensáveis para que se tenha um rebanho saudável, produtivo e também assegurar que os animais expressem seu potencial genético garantindo uma maior rentabilidade do setor suinícola.
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