O setor produtivo de alimentos vive um período de grandes transformações, puxadas principalmente por novas demandas criadas pelos consumidores. Os rumos do setor sempre foram ditados pela produção, industrialização e até comercialização. Nos últimos anos, com o advento da internet e das mídias sociais, principalmente, as vontades dos consumidores ganharam uma força muito maior. O processo foi rápido, a ponto de as indústrias não se prepararem adequadamente para esse momento, o que tem levado a séries dificuldades de compreensão das exigências e de diálogo com esse novo consumidor. As instituições setoriais não dispunham desse canal aberto, atrelado ao fato de diversas dessas novas demandas se formularem sem base científica sólida, ocasionando em um radicalismo alimentar e na criação de mitos em torno de vários alimentos.
“Há muitos gurus ganhando dinheiro com blogs, livros e outros produtos. São criadores de mitos e fatos que não são verdadeiros. São profissionais de diversas áreas que se aproveitam de sua posição e propagam inverdades ou informações não comprovadas cientificamente para toda a população, com o único objetivo de ganhar dinheiro”, afirma Luis Fernando Ceribelli Madi, diretor-geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital).
Esse cenário criou um movimento dentro das entidades setoriais e instituições públicas para a criação de canais de comunicação com o consumidor, buscando transmitir a ele informações técnico-científicas em linguagem adequada. Um exemplo é o projeto Brasil Processed Food, encabeçado pelo Ital e que conta com o apoio de inúmeras entidades setoriais. “Esse projeto foi iniciado no ano passado. Em breve lançaremos um site totalmente direcionado ao consumidor, com informações e vídeos em linguagem facilmente acessível a toda a população”, comenta Madi.
Nessa entrevista, o diretor do Ital aponta as principais tendências e desafios para o setor produtivo de alimentos, comenta ainda sobre o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), que atribuiu efeitos carcinogênicos aos produtos cárneos processados, e fala sobre novas tecnologias e do novo perfil do consumidor. Confira.
Avicultura Industrial – O setor produtivo de alimentos tem passado por uma grande transformação, na qual a inovação tecnológica é cada vez mais presente e necessária. Especialmente para a indústria cárnea, como tem se dado essa transformação, que é puxada principalmente pela incorporação de novas tecnologias?
Luis Fernando Ceribelli Madi – Hoje, há várias inovações tecnológicas para o setor de alimentos em geral. A grande dificuldade está em orientar essas transformações para que sigam na mesma direção das demandas e necessidades dos consumidores. O consumidor mudou muito. Com a comunicação fortemente presente na rotina das pessoas, esse consumidor quer saber de tudo: tecnologia, rastreabilidade e da própria indústria. Quer saber quais são os valores daquela empresa e comparar com os valores pessoais dele, verificando se há identificação entre ambos. No entanto, acredito que a maioria das companhias de alimentos e bebidas ainda não compreendeu muito bem essa mudança. Não a entenderam completamente porque ela ocorreu de forma muito rápida. Está diretamente ligada ao advento da internet e ao aparecimento das mídias sociais.