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Agroindústrias

JBS ainda é negócio familiar

<p>A família Batista, que dirige o novo líder mundial em carnes, continua exercendo um papel dominante na empresa e segue com apetite para expansões arriscadas.</p>

Meio século depois de comprar um açougue e iniciar um negócio que se transformaria em um império global de carnes, a família Batista, que dirige o grupo JBS, continua exercendo um papel dominante na empresa e segue com apetite para expansões arriscadas.

João Batista Sobrinho, o fundador de 76 anos do JBS, começou a trabalhar aos 15 no Estado de Minas Gerais antes de se mudar para Goiás. Ele passou seus ensinamentos sobre o negócio bem cedo para os três filhos, que agora desempenham papéis importantes nas operações da companhia no Brasil e nos Estados Unidos.

O diretor-presidente da JBS, Joesley Batista, 37 anos, e seu irmão Wesley Batista, que dirige as operações do grupo nos EUA, estiveram à frente das negociações que culminaram na semana passada na aquisição da empresa americana de aves Pilgrim’s Pride Corp. O filho mais velho de Sobrinho, José Batista Júnior, pertence ao conselho diretor do JBS.

Após a conclusão da compra de 64% da Pilgrim’s Pride e de uma participação majoritária na rival brasileira Bertin, também anunciada na semana passada, o JBS espera ter uma receita anual de US$ 30 bilhões, tornando-se a maior empresa mundial no setor de carnes.

“Os rapazes [os filhos] foram os que conduziram as negociações”, afirmou o ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes, que também faz parte do conselho diretor da JBS. “A família participou de todo o processo…e sabia que os irmãos estavam construindo um negócio global”.

Sobrinho, conhecido por Zé Mineiro devido às suas origens, ainda participa das reuniões do conselho da empresa e se envolve principalmente com as operações de gado da companhia.

Zé Mineiro visita com frequência as fazendas e os confinamentos de gado no Centro-Oeste, indo de uma propriedade a outra de helicóptero.

Praticamente desconhecida fora do Brasil até poucos anos atrás, a JBS teve início nos anos 1950 quando Zé Mineiro começou a comprar bois em Goiás e vendê-las aos frigoríficos. Em 1957, ele comprou o primeiro açougue, não muito longe de Brasília, a então nova capital brasileira.

Nos anos 1980, a JBS começou a devorar as rivais e estabeleceu uma cadeia nacional de plantas. Uma guinada importante na estratégia de crescimento da empresa aconteceu na década seguinte, quando começou a exportar carne in natura.

Ousadia
Primeiro, a empresa exportava cortes de carne que não eram amplamente aceitos no mercado doméstico, disse em entrevista recente a um jornal brasileiro o diretor de relações com investidores da JBS, Jeremiah O’Callaghan.

A estratégia agregou valor ao portfólio da JBS e tornou a empresa mais competitiva localmente, disse ele. Um quarto de seus rendimentos agora vem das vendas em mercados estrangeiros.

“Eles são caras ousados, que aproveitaram a oportunidade e investiram fortemente em uma época em que as exportações brasileiras estavam explodindo”, afirmou Antenor Nogueira, ex-presidente do Fórum Nacional de Pecuária.

Dois anos antes de entrar na Bolsa de Valores de São Paulo em 2007, a JBS tomou o primeiro passo internacional, ao comprar a Swift Argentina. Poucos meses depois, comprou a Swift Foods Co, com sede nos EUA, tornando-se a maior empresa processadora de carne do mundo em termos de capacidade de abate.

Depois, ela comprou 50% da processadora de carne europeia Inalca, do australiano Tasman Group, a unidade de carne da Smithfield Foods.

Em contraste com outros grupos, a JBS geralmente compra as unidades industriais – muitas das quais estavam em frágil situação financeira – em vez de construr novas instalações, tornando mais rápido o processo de crescimento.

Outro motivo para o sucesso do grupo, afirmou Pratini, foi dar atenção e apoio aos fornecedores de gado e aos clientes.

“Eles estão sempre disponíveis para conversar. Há sempre um grande esforço para isso, apesar de ser uma empresa com 124 mil funcionários”, afirmou ele.

Apesar dos grandes passos dados pelo JBS, quem conhece a empresa diz que os proprietários pouco mudaram. “As coisas acontecem, nada é programado na vida”, disse José Batista Sobrinho a um jornal brasileiro na única entrevista que já deu, há dois anos.

“É natural que todos pensem sobre crescimento. Mas naquela época era outro mundo, ninguém sonharia com isso”.