A JBS já concluiu praticamente todas as negociações com os bancos credores para reduzir o custo dos R$ 5,85 bilhões em dívidas da Marfrig por conta da aquisição da Seara Brasil e da Zenda, afirmou ontem o presidente da JBS, Wesley Batista, em teleconferência com analistas sobre os resultados da empresa no segundo trimestre.
Poucas horas depois, em entrevista, Batista deu mais detalhes sobre as negociações. Segundo ele, os bancos credores da Marfrig aprovaram um alongamento de, em média, três anos, das dívidas que a gigante de proteínas animais vai assumir. Essas dívidas têm vencimentos, em sua maioria, entre 2013 e 2016, segundo ele. Além do maio prazo, os bancos aprovaram também uma redução de cerca de 200 pontos base no custo das dívidas assumidas da Marfrig.
No balanço divulgado quarta-feira, a JBS informou que já assumiu, no segundo trimestre, R$ 324,7 milhões do total de R$ 5,85 bilhões em dívidas da concorrente. No terceiro trimestre, incorporou mais R$ 800 milhões. O restante será transferido após a aquisição da Seara Brasil e da Zenda ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A expectativa do empresário é que a operação seja aprovada pelo órgão antitruste até setembro.
Quando assumir o restante das dívidas da Marfrig, a JBS verá seu índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) crescer. No fim do segundo trimestre, esse índice era de 3,28 vezes. O presidente da JBS garante, porém, que a alavancagem da companhia será inferior a 4 vezes do ano. “Há analistas falando num índice de 4 vezes, mas ficaremos abaixo disso”, afirmou ao Valor. De acordo com ele, a empresa continuará a desalavancar com melhora na geração de caixa.
Aos analistas, Batista fez questão de defender a política ativa de hedge da JBS. Segundo ele, a decisão de proteger a exposição ao dólar evitou que a JBS tivesse um impacto cambial negativo de mais de R$ 1 bilhão no segundo trimestre. A declaração foi uma clara alusão ao questionamento feito pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em junho, sobre o volume de operações com derivativos feito empresa.
“Se não tivéssemos feito isso, estaríamos falando de um impacto de mais de R$ 1 bilhão. A JBS prefere encarar e gerenciar a exposição. Atuamos para proteger as exposições que temos”. Atualmente, cerca de 80% do endividamento bruto de R$ 24,4 bilhões da JBS é denominado em dólar e, portanto, exposto à variação cambial.
Apesar da política de hegde, a JBS não ficou imune ao impacto da valorização do dólar sobre as dívidas em moeda estrangeira no segundo trimestre. No período, a variação cambial teve um impacto negativo não caixa no balanço da empresa de cerca de R$ 270 milhões. Segundo Batista, esse impacto aconteceu porque a empresa iniciou o segundo trimestre sem ter feito hedge de toda exposição cambial. “Terminamos o primeiro trimestre com exposição cambial que não estava protegida. Durante o segundo trimestre, ‘hedgeamos'”.
Em todo o primeiro semestre do ano, a receita líquida da JBS alcançou R$ 42 bilhões. Considerando que no segundo semestre, os volumes são maiores e a valorização do câmbio, analistas estimam que a empresa deve fechar 2013 com receita de R$ 90 bilhões.