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JBS aposta em velha fórmula

A maior empresa de carnes do mundo acredita em simplicidade e objetividade. Fusão com a Bertin será um dos desafios agora.

JBS aposta em velha fórmula

Joesley Mendonça Batista avisa: não é porque a JBS-Friboi cresceu e virou a maior empresa de proteína animal do mundo que ele vai deixar de usar calça jeans. O recado, nas entrelinhas do aviso, é o seguinte: ele não vai mudar e nem a forma de gerir a companhia, agora, uma gigante – com o perdão do lugar-comum -, depois da compra da americana Pilgrim’s Pride, e da fusão com a Bertin S.A, anunciadas semana passada.

“Não muda a fórmula, continuaremos trabalhando de forma simples, objetiva, mão na massa”, afirmou o presidente da JBS, quando questionado sobre o desafio de gerir uma empresa tão grande e internacionalizada, com faturamento líquido anual estimado em R$ 60,6 bilhões (considerando os resultados semestrais das empresas).

O primeiro desafio – obter recursos para financiar as aquisições -, a JBS já administra. De acordo com Batista, uma das alternativas de capitalização é a BNDESPar, braço de participações do banco de fomento federal. “Sem dúvida, pode ajudar a financiar”, admitiu o empresário de 37 anos.

Para pagar a Pilgrim’s, com a qual estreia em frango e na qual terá uma participação de 64% no capital social, a JBS planeja uma emissão privada de US$ 2,5 bilhões por meio da JBS USA, sua subsidiária nos EUA. A operação resultará em uma participação de, no máximo, 26,3% do capital da JBS USA.

Além do BNDES, que já tem 22,4% da JBS após a fusão com a Bertin, a criação de um fundo de investimentos em participações (FIP) também pode ser um caminho para financiar o negócio. “Não temos ainda um desenho final de como financiar (…) Um FIP pode ser um caminho, pois os fundos de pensão ficam interessados”. A própria abertura de capital da JBS USA, nos EUA, por enquanto postergada, pode ser uma forma de levantar recursos, segundo Batista. A expectativa é obter US$ 2 bilhões com essa operação.

A JBS pagou US$ 800 milhões, em dinheiro, pela Pilgrim’s e assumiu dívidas de US$ 1,5 bilhão da empresa, que pediu proteção contra a falência em dezembro do ano passado. A brasileira já tem disponíveis linhas de crédito suficientes para financiar essa dívida.

Ao explicar todas as alternativas de financiamento, Joesley Batista mencionou, pela primeira vez, a expressão aquisição para se referir à operação com a Bertin. “No limite, conseguimos fazer uma das aquisições sem nova emissão e (…) sem ficar muito alavancados”, observou. A JBS tem hoje em caixa US$ 1,5 bilhão que poderiam ser usados nas aquisições.

Na operação com a ex-concorrente, a JBS ficou com 60% do capital de uma nova holding criada para unir as companhias, e a Bertin, com 40%. “São duas empresas quase equivalentes. Eles serão minoritários, mas é uma fusão, em que pese o fato de que a JBS ficará no comando”, desconversou.

Sem abrir os números que levaram às fatias de cada uma na holding, na operação de troca de ações, Batista explicou que foram consideradas as projeções para o Lajida (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) das duas empresas e as sinergias entre elas. Como houve venda de controle, a JBS também está pagando um prêmio de controle para a Bertin. Tudo foi considerado nos cálculos das participações.

Aliás, fazer a fusão e a integração com a Bertin será um dos desafios da gestão da JBS a partir de agora, segundo Batista. “São duas empresas que se complementam e que têm culturas muito fortes, tradicionais”. Enquanto a JBS focou na carne e se internacionalizou, a Bertin se diversificou e verticalizou a produção, lembrou. “Será um aprendizado mútuo”.

Outra empreitada para a JBS será entrar num setor novo, o de frango. A vantagem é que já começará como uma das maiores dos EUA. Além de aprender um novo negócio, a JBS também terá de enfrentar os lobbies locais. A R-Calf USA, associação que reúne pecuaristas, já se opôs à aquisição da Pilgrim’s, como fizera quando a JBS comprou a Smithfield e a National Beef – a compra da última não foi concluída após forte pressão dos criadores americanos.

“Hoje já entendemos melhor a cabeça dos americanos, conhecemos os trâmites”, disse. Ele não acredita que a nova tentativa dos pecuaristas dos EUA surtirá efeito. “Se isso prosperar, vou entender como uma questão diplomática”.

Os lobistas podem até não ter sucesso, mas a maior concorrente da Pilgrim’s em frango nos EUA, a Tyson Foods, já avisou que dará trabalho. No dia em que a aquisição foi anunciada, Don Tyson, fundador da empresa, ligou para os Batista. “Ele nos parabenizou, nos deu boas-vindas, mas disse para nos prepararmos porque a disputa será dura”, contou o presidente da JBS. “Ele nos disse que nós somos bons em boi, mas eles são bons em frango”.

No Brasil, a fusão com a Bertin também enfrenta resistência de pecuaristas, que temem menor poder de barganha nas negociações. Batista disse que essa é uma visão “míope”. “Quando mais as empresas brasileiras se internacionalizam, mais o preço do boi alcança patamares internacionais”, afirmou. Segundo ele, o negócio beneficia os pecuaristas, pois levará a carne brasileira a mais mercados.