Depois de comprar ou arrendar sete frigoríficos desde o início do ano e ampliar sua capacidade de abate de bovinos no país em mais de 10%, a JBS, maior empresa de proteína animal do mundo, apresentou uma proposta formal para adquirir ativos do Independência, em recuperação judicial desde 2009.
Procurada, a JBS preferiu não comentar a informação. O Valor não conseguiu localizar representantes do Independência, mas apurou que a oferta gira em torno de R$ 270 milhões, mas não está claro se a empresa assumirá ou não as dívidas do Independência, que mesmo após o desconto de 50% aceito por seus credores ainda é da ordem de R$ 1 bilhão.
Esses credores deverão avaliar a proposta em assembleia que será realizada em 30 de abril. Para o negócio ser efetivamente fechado, também será preciso o aval do BNDES. E não são favas contadas. Em outubro de 2011, uma oferta de R$ 706,9 milhões feita pela paranaense Alfredo Kaefer e pela Unibrax Investimentos & Participações por um bloco de ativos do Independência foi recusada.
O “pacote” era formado por um abatedouro e um curtume localizados em Nova Andradina, Mato Grosso do Sul, um abatedouro em Campo Grande, no mesmo Estado, outro em Senador Canedo, Goiás, e dois armazéns em Santos e Barueri, em São Paulo, além de quatro terrenos.
Se 2011 foi um ano de consolidação para a JBS, cujo faturamento total superou R$ 60 bilhões, 2012 começou com uma sequência expansionista considerável.
Em fevereiro, a companhia arrendou quatro frigoríficos do Guaporé Carne – três em Mato Grosso e um em Rondônia -, com capacidade de abate total de 3.050 cabeças por dia. Em março, arrendou uma unidade do River Alimentos em Coxim, em Mato Grosso do Sul, com capacidade de 450 cabeças.
Na semana passada, o Valor informou que a JBS também acabou de concluir a compra de outros dois frigoríficos de carne bovina de pequeno porte no Norte do país – uma em Ariquemes, Rondônia, que pertencia à MJE, e outra em Rio Branco, Acre, que era controlada pela Jema. Por ambas, pagou cerca de R$ 3 milhões e agregou mais 900 cabeças diárias a sua capacidade de abate. Essas transações ainda dependem do sinal verde do Cade.
Com o segmento de carne bovina cada vez mais concentrado e em meio a uma clara tendência de queda dos preços do boi gordo neste ano, os recentes negócios fechados pela JBS não passaram despercebidos pelos pecuaristas. Principalmente em Mato Grosso (ver matéria ao lado) e Mato Grosso do Sul, a preocupação com o aumento do poder de barganha da empresa é grande – e vai aumentar caso seja concluída a transação com o Independência.
De acordo com a Scot Consultoria, a JBS detém 16% da capacidade de abate de bovinos no Brasil, quase o dobro do segundo colocado, o Marfrig, com 7,2%.
Para reforçar sua atuação no segmento de aves e suínos, a JBS continua de olho na estrutura da Doux no Rio Grande do Sul. A empresa assinou um contrato de exclusividade para analisar os ativos, mas isso não significa que a compra será efetivada, uma vez que as elevadas dívidas da múlti francesa no país, da ordem de R$ 600 milhões, teriam de ser equacionadas antes de um eventual acordo.
Concentração no abate cresce em Mato Grosso.
A JBS já responde por quase metade de toda a capacidade de abate bovino em Mato Grosso, Estado que detém o maior rebanho do país. É o que aponta um levantamento realizado pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), ligado à federação que representa os produtores rurais do Estado (Famato), publicado na semana passada.
Conforme o estudo, a JBS atingiu em 2012 a capacidade de abater 18,36 mil cabeças em suas 19 unidades próprias ou arrendadas, o equivalente a 48% de todo o potencial industrial (estimado em 38,45 mil cabeças). Muito distante estão BRF – Brasil Foods e Marfrig, segundo e terceiro colocados, com uma fatia de 10% cada. O número leva em consideração tanto as plantas em operação quanto as que têm ociosidade.
Ainda de acordo com o estudo, a fatia da JBS no Estado mais do que triplicou desde 2008, antes de a companhia iniciar sua agressiva estratégia de expansão – e de vários de seus concorrentes terem sido debelados pela crise. À época, o frigorífico podia abater pouco mais de 4,7 mil cabeças, ou 14% de total mato-grossense, atrás do Quarto Marcos (17%), empatado com o Independência e à frente da Marfrig (12%).
Para João Gouveia Neto, presidente da Comissão da Pecuária da Famato, entidade que representa os produtores rurais de Mato Grosso, o processo de concentração da indústria frigorífica tem provocado uma queda nos preços pagos ao pecuaristas do Estado. “Hoje Mato Grosso tem um preço menor do que em Rondônia, o que é inédito”.