Num movimento que parece ter se tornado usual, a JBS já está atenta a novas aquisições, segundo fontes do mercado, reagindo ao anúncio feito pela Marfrig, neste mês, da compra da americana Keystone. O negócio fez da Marfrig um dos maiores fornecedores da rede McDonald’s no mundo.
O Valor apurou que a JBS está interessada em manter conversações com a americana Smithfield Foods, que atua em carne suína. Detalhes do negócio estão guardados a sete chaves. Procurada, a JBS informou por meio da assessoria de imprensa que não comenta rumores de mercado.
Para os especialistas, por um lado, a operação faz sentido porque a empresa americana vive situação delicada. Há pelo menos dois anos, a Smithfield promove intensa reestruturação depois que seus negócios foram afetados pela volatilidade do mercado de commodities e, em particular, pela gripe suína. As vendas da companhia foram afetadas e fábricas tiveram de ser fechadas.
No passado, as duas empresas já fizeram negócio. Em março de 2008, a JBS comprou uma subsidiária da americana, a Smithfield Beef Group, com atuação em carne bovina. Conforme noticiou semana passada a agência Bloomberg, diante da reestruturação que promove em seu negócio, uma eventual venda da área de suínos não poderia ser descartada.
Para analistas, um ponto que pode pesar contra o fechamento de um eventual negócio é o fato de aquisições não serem, no momento, foco da JBS. Há três meses, a empresa captou R$ 1,6 bilhão em uma oferta primária de ações. Quando realizou esse processo, buscava recursos para a expansão de sua área de distribuição. Na América do Norte, a intenção é aumentar a distribuição direta de 7% para 55%.
Para a JBS, um acordo com a Smithfield significaria o fortalecimento de seu braço de varejo nos Estados Unidos, reforçando sua presença naquele país, onde começou a atuar em suínos após a compra da Swift Foods.
A Smithfield possui ações listadas na bolsa americana e está avaliada em US$ 2,47 bilhões. Ano passado, faturou US$ 11,2 bilhões. Líder em produção e processamento de carne de porco no mundo, ela atua em suínos nos Estados Unidos, Europa e México e tem joint venture em perus com a Butterball, a maior do setor nos EUA. Com participação de 49% no negócio, a Smithfield Foods ofereceu, este mês, cerca de US$ 200 milhões pelos 51% de seu sócio na Butterball. Pelo acordo entre ambas, o sócio, que não é identificado pela empresa, pode aceitar a oferta ou comprar os 49% da Smithfield, informou a Bloomberg.
A Smithfield Foods tem mais de 50 marcas de produtos derivados de carne suína e peru e emprega mais de 52,4 mil pessoas.
Ponto contra fechamento de um eventual negócio é que aquisições não são foco atual da empresa A JBS já adquiriu outras empresas, entre elas a própria Smithfield Beef, que enfrentavam dificuldades no mercado, principalmente após a crise financeira no fim de 2008.
No quarto trimestre do ano fiscal de 2010 nos Estados Unidos, a Smithfield Foods teve prejuízo líquido de US$ 4,6 milhões, período em que a receita foi de US$ 2,9 bilhões, 2% de crescimento. Um ano antes, sua perda havia sido bem maior, de US$ 76,6 milhões. Para todo o ano fiscal, o prejuízo da Smithfield totalizou US$ 101,4 milhões – no periodo anterior havia sido de US$ 198,4 milhões. Mas a receita caiu de US$ 12,5 bilhões no ano fiscal de 2009 para US$ 11,2 bilhões no exercício seguinte.
Em comunicado publicado em seu site na divulgação do balanço, este mês, a Smithfield Foods afirma que os dois últimos anos foram os mais desafiadores para a empresa em 30 anos. Além da recessão global, ela citou a popularmente conhecida “gripe suína”, fatos que levaram ao fechamento de alguns mercados para exportação de carne suína.
A JBS iniciou seu processo de internacionalização com a compra da Swift Armour na Argentina, em 2005. Entre 2006 e 2007, a empresa comprou outros ativos menores no país vizinho. Em 2007, o passo foi maior: depois de abrir o capital na bolsa, a JBS comprou a Swift Foods Company nos Estados Unidos. No fim de 2007, comprou 50% da italiana Inalca. No ano seguinte, adquiriu a Smithfield Beef e a Five Rivers e o Tasman Group, na Austrália. No ano passado, finalmente, estreou em frango, com a compra do controle da americana Pilgrim’s Pride, que estava em recuperação judicial. A Marfrig, com a qual a JBS tem disputa acirrada, já fez 38 aquisições em três anos, incluindo a Seara da Cargill, no ano passado e a Keystone este ano.