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Agroindústrias

JBS segue os passos da Cargill e da Bunge

<p>Depois de dominar o mercado de carne in natura - uma commodity - grupo pretende investir cada vez mais em produtos industrializados</p>

Novo líder mundial em proteínas animais, o JBS vai investir cada vez mais no segmento de produtos industrializados. Cerca de 90% de sua receita ainda é gerada pelas vendas de carne in natura, mas o grupo busca inspiração em outros gigantes do setor agrícola, como a americana Cargill e a holandesa Bunge. Depois de dominar o mercado de commodities agrícolas – sobretudo, o de grãos – essas companhias migraram gradualmente para alimentos industrializados, e hoje detém marcas líderes em segmentos que vão de margarinas a óleo de soja, passando por maioneses e azeite.
 
Nesta entrevista, o ex-ministro da Agricultura Marcus Vinícius Pratini de Moraes, membro do conselho de administração do JBS, e presidente do comitê de estratégia da empresa, fala dos próximos passos do grupo. Leia, a seguir, os principais trechos:

EXAME – Pode-se dizer que o JBS. vai seguir o caminho de empresas como Bunge e Cargill, que começaram operando commodities agrícolas e, hoje, são também muito fortes em produtos para o consumidor final?

Marcus Vinícius Pratini de Moraes – É o que estamos tentando fazer. Chega um momento em que uma empresa cresce muito, e não basta apenas ficar exportando. A partir de certo ponto, você tem de estar fisicamente presente no mercado-alvo, para assegurar que você vai continuar crescendo.

EXAME – Mas chegando cada vez mais perto do consumidor final?

Pratini de Moraes – Sim, o movimento é em direção a produtos de maior valor agregado. Esse é o futuro. É uma revolução nos hábitos de consumo, que abre um novo tipo de mercado: produtos prontos, em pequenas porções, para consumo doméstico. Esta é a oportunidade do JBS. Agora, essa parte vai ser reforçada pelo Bertin, que também atua em industrializados. Esse é o desafio do marketing hoje. Para vender produtos industrializados, você precisa de marcas fortes.

EXAME – Quanto do faturamento do Friboi já vem de industrializados?

Pratini de Moraes – Hoje, 90% de nossas vendas vêm de carne in natura. Mas é um tipo de carne diferente da do passado. Já vendemos, aqui e no exterior, a carne desossada, em cortes menores, cada vez mais beneficiada. Não são apenas quartos de boi. Hoje, vendemos muito pouca carne com osso. Só para o Marrocos e alguns países da África.

EXAME – Em termos de carne in natura, a produção do JBS vai se concentrar no Brasil, por causa das vantagens naturais? A expansão para outros países vai ser cada vez mais via produção de industrializados?

Pratini de Moraes – Isso vai acontecer cada vez mais. É a tendência. Mas, por enquanto, vai ser mais lenta. As empresas que nós adquirimos já têm plantas de industrialização. A Pilgrim’s Pride e a Swift têm. No mercado americano e europeu, o volume de carne industrializada é muito maior. Aqui no Brasil, a tendência é mais recente, porque a urbanização começou depois, e o poder aquisitivo também cresceu mais lentamente.

EXAME – Quais são os próximos desafios do JBS?

Pratini de Moraes – O grupo está concluindo uma etapa importante, que é consolidar sua posição no mercado interno brasileiro, por meio da fusão com o Bertin. De outro lado, temos de buscar a consolidação dessa fusão, que se dará de modo gradativo. E depois consolidar o setor de frango. Esse é o desafio. O desafio agora não é fazer novas aquisições. O desafio é consolidar os negócios recentes. E isso vai levar um período relativamente curto.

EXAME – E quais são as oportunidades depois desse período de absorção das novas empresas?

Pratini de Moraes – Somos um grupo forte e ainda estamos nos desenvolvendo. Minha tese é que o Brasil já é e vai continuar sendo um grande fornecedor de produtos animais e vegetais. Temos de estimular essa expansão. E, dentro disso, queremos vender cada vez mais proteína animal processada. Cortes especiais embalados, por exemplo. Não podemos crescer só em volume, mas também em agregação de valor.

EXAME – Os Estados Unidos ainda têm espaço para o JBS crescer via aquisições?

Pratini de Moraes – Eu acho que ainda é muito cedo. Para ter uma idéia mais clara, temos de ver como os países vão sair da crise. Não há a menor dúvida de que, no longo prazo, os grandes mercados serão o Extremo Oriente e a África. E as Américas e o Oriente Médio continuarão crescendo. Nós já temos distribuição na África, no Egito, em Angola. No futuro, talvez possamos ter plantas. É uma tendência natural. Mas o próximo passo natural é consolidar as novas aquisições e integrá-las à operação da empresa.

EXAME – Uma das características do JBS, é adquirir empresas com dificuldades e reestruturá-las. Como é esse processo?

Pratini de Moraes – A gente entra olhando todo o processo. A gente presta atenção no operacional para fazer ajuste fino em todas as partes: compra de matéria-prima, processamento e vendas. São três pontos-chaves. Procuramos melhorar esses mecanismos. E, permeando tudo isso, existe sempre a necessidade de melhorar a logística.

EXAME – Como é o estilo de gestão do JBS?

Pratini de Moraes – A característica fundamental da empresa é a informalidade. Somos muito informais. Somos muito simples. É uma organização grande. Uma das maiores do país. Mas não mudou o estilo. Eu não tinha calça jeans, quando vim trabalhar aqui. Eu tive de comprar uma, porque todo mundo usa jeans aqui. E isso é ótimo!

EXAME – Essa informalidade também ajuda na tomada de decisões?

Pratini de Moraes – Claro, porque facilita a comunicação. Essa empresa tem mais de 50 anos. Há pessoas que a conhecem, porque trabalham aqui há muito tempo. Essas pessoas, e todas as demais, têm muito acesso à direção. Qualquer um pode propor uma melhoria, dar uma idéia. Os irmãos Batista andam muito pelo chão-de-fábrica dos frigoríficos. Qualquer funcionários pode se aproximar, dar uma sugestão. Se ela for boa, é aplicada.

EXAME – O que é mais característico na cultura do Friboi?

Pratini de Moraes – Eu diria que é uma altíssima dose de simplicidade, de informalidade. E, sobretudo, uma elevada dose de confiança nas pessoas, nos projetos. As pessoas confiam umas nas outras. Elas mantêm um ambiente de trabalho salutar. Sempre há diferenças. Mas é mais fácil de acertar porque a comunicação aqui dentro é muito boa. Isso é um estilo muito brasileiro de gestão. O brasileiro é assim mesmo: informal e muito aberto aos outros.