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Juros dos novos Fiagro ainda geram incerteza no mercado

Taxas subsidiadas do Plano Safra impõem desafio aos fundos

Juros dos novos Fiagro ainda geram incerteza no mercado

A B3 vai anunciar em breve a data em que passarão a ser aceitos os pedidos de listagem em bolsa e registro em balcão dos Fundos de Investimentos nas Cadeias Agroindustriais (Fiagro). Mas, embora a expectativa de quem estrutura as primeiras aplicações – e dos investidores em geral – com a novidade seja positiva, ela ainda desperta desconfiança de produtores e do setor financeiro sobre as taxas de juros que serão praticadas, já que, para serem competitivas, elas não poderão ser muito superiores às das linhas oficiais de crédito rural.

“Inicialmente, o benefício para acesso ao crédito será pequeno. Pouco, para não dizer nenhum. O produtor hoje está atrás do benefício dos juros subsidiados, e o Fiagro é dinheiro do mercado livre”, disse um experiente executivo do sistema bancário com foco no agro.

Esse executivo não vê possibilidade de uma debandada dos investidores que aplicam dinheiro nos bancos em títulos do agronegócio, como as Cédulas de Produto Rural (CPRs), para os novos fundos. “Por que o investidor vai aceitar receber menos do que nos bancos, que são experientes e onde não há risco de contraparte, para emprestar para quem ele não conhece?”, questiona.

Segundo outro especialista nesse mercado, o dinheiro do Fiagro de fato não será mais barato. “É um produto legal, há demanda, mas essa história de que o dinheiro vai ficar mais barato e acessível não existe”.

Não é o que pensa o secretário-adjunto de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, José Angelo Mazzilo Júnior. “Precisamos facilitar o funding, e os Fiagro serão peça importante nesse processo, aumentando tanto o fluxo de recursos quanto a redução dos custos de captação para o agronegócio”, afirmouAlgumas fintechs apostam que os novos fundos terão juros entre 0,9% e 1,3% ao mês, a depender do prazo do empréstimo e do rating do tomador para custeio e investimentos. Carlos Eduardo Mascarenhas, CFO da agtech Agroforte, diz que o Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) que está estruturando com foco em integrados de indústrias de aves, suínos e leite, deverá se enquadrar como Fiagro, e terá “maior capacidade de pulverização do portfólio, tornando o crédito mais acessível a pequenos e médios produtores”.

Segundo ele, os Fiagro vão forçar ajustes nos modelos de financiamento dos atuais credores do agronegócio e permitir a entrada de novos financiadores. “Somente o giro da atividade dentro da porteira demanda R$ 700 bilhões por ano, sem contar investimentos. Teremos um ciclo virtuoso no qual caberá ao credor aprimorar seus modelos e ampliar o volume de suas carteiras”, realçou Mazzilo Júnior.

Algumas fintechs apostam que os novos fundos terão juros entre 0,9% e 1,3% ao mês, a depender do prazo do empréstimo e do rating do tomador para custeio e investimentos. Carlos Eduardo Mascarenhas, CFO da agtech Agroforte, diz que o Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) que está estruturando com foco em integrados de indústrias de aves, suínos e leite, deverá se enquadrar como Fiagro, e terá “maior capacidade de pulverização do portfólio, tornando o crédito mais acessível a pequenos e médios produtores”.

Nada disso reduz as apostas de executivos tarimbados do agro brasileiro, alguns dos quais estão formando empresas para divulgar o Fiagro como mecanismo de investimento também no exterior. Como afirma um consultor, o varejo brasileiro deve fomentar os fundos no primeiro momento, “mas o dinheiro de fora vai fluir mais facilmente” com a nova alternativa.

Esse consultor acredita que os juros dos financiamentos dos produtores via Fiagro, mesmo no cenário de taxas altas, dificilmente superarão 12% ao ano. Segundo essa fonte, as operações de barter (troca de insumos pela produção) têm juros dos 25%, enquanto nos bancos, mesmo com as taxas oficiais em até 8,5%, o custo chega a 16% com os “penduricalhos”. A explicação está na burocracia menor, no baixo custo, na transparência e na concorrência que os novos fundos terão.

O setor produtivo tem esperança de que os Fiagro deslanchem em alguns anos, mas está convicto de que o crédito subvencionado continuará como alvo principal de disputa dos produtores. “Não é no primeiro ano que vamos conseguir uma taxa mais atrativa com o Fiagro”, afirmou uma liderança rural em Brasília.

A avaliação é positiva sobre o fluxo de dinheiro que será criado com o instrumento para melhorar a oferta de crédito e a concorrência que o Fiagro pode gerar para baratear o financiamento do agro. As dúvidas giram em torno da operacionalização, dos riscos de integralização de propriedades nos fundos, de quais instrumentos jurídicos serão usados para transformar os imóveis em cotas e das garantias de remuneração do capital.

O consenso, por enquanto, é sobre o papel que os fundos vão desempenhar na melhoria da gestão da atividade produtiva, do patrimônio imobiliário rural e do planejamento tributário, fiscal e sucessório. João Henrique Hummel, que dirigiu a área técnica da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) nos últimos 15 anos e hoje trabalha na estruturação de Fiagro em Brasília, afirma que os fundos vão profissionalizar e dar mais transparência à agricultura.

Ele vê reflexos positivos até para a imagem do agronegócio brasileiro. “O setor agropecuário precisa entender que é competitivo e que vão dar dinheiro para ele. As pessoas vão conhecer melhor o pacote tecnológico e o diferencial competitivo do Brasil, vão ganhar dinheiro investindo nisso e vão passar a defender o agro”, disse.

Outros agentes ainda estão relutantes com a reforma tributária, que poderá atacar a isenção da tributação desses fundos – apesar da sinalização da bancada ruralista para a manutenção da desoneração. A Receita Federal também não legislou sobre o assunto, o que deixa os Fiagro vulneráveis a ajustes e progressões tributárias.

Em nota, a B3 informou que os ajustes nos sistemas para negociação dos Fiagro estão em fase final e que nas próximas semanas será divulgada a data de início para aceitação dos pedidos de registro. “O potencial de mercado dos fundos de investimentos que investem em ativos ligados ao agronegócio é bastante relevante, não apenas pelo dinamismo do setor, mas também pela possibilidade de maior diversificação para os investidores finais em um contexto de crescente relevância do agronegócio no país”.