Quando criaram a gestora de fundos Kaeté Investimentos em 2011, os sócios Luís Fernando Laranja e Otávio Ottoni tinham algo bem claro em mente: focariam investimentos ligados a recursos naturais e que promovessem o desenvolvimento regional em áreas como o Norte e Nordeste do país, de forma sustentável.
A aposta da Kaeté – em certa medida, também uma forma de se diferenciar das demais desse mercado – começa a mostrar os primeiros resultados. Um empreendimento que Luís Fernando Laranja chama de o “maior projeto de piscicultura em implantação no país” – e que tem um fundo gerido pela Kaeté entre seus sócios – deve entrar em operação a partir de outubro.
A Kaeté é gestora do Fundo de Investimentos e Participações em Empresas Sustentáveis na Amazônia, lançado também em 2011 pelo BNDES, que tem 32% do capital da Peixes da Amazônia, cuja instalação está sendo finalizada em Rio Branco (AC).
A Kaeté – mata virgem em tupi – foi selecionada pelo BNDES para gerir o fundo de R$ 100 milhões, que visa investimentos na chamada Amazônia Legal. A área compreende a região Norte do país e os Estados de Mato Grosso e Maranhão. O principal cotista do FIP é o próprio banco oficial de fomento (com 80%), e há outros quatro investidores: Banco do Pará, Agência de Negócios do Acre, a própria Kaeté e um grupo familiar privado que atua na Amazônia.
De acordo com Laranja, o fundo começou a operar no início do ano passado. Desde então, a Kaeté prospectou mais de 130 empresas. O alvo, afirma, são os segmentos de florestas nativas ou plantadas, energia renovável, agricultura, piscicultura, saneamento e logística.
Para receber recursos desse FIP, o investimento tem de atender a critérios de sustentabilidade do ponto de vista ambiental e trabalhista. E há segmentos não elegíveis, como fumo e mineração, por exemplo, explica ele.
“Nosso objetivo é focar em empresas que gerem desenvolvimento regional”, reitera Laranja, que é veterinário e deu aulas durante 10 anos na Universidade de São Paulo (USP). “Acreditamos que há espaço para esse tipo de investimento”, reforça Otávio Ottoni, administrador de empresas, que antes da Kaeté atuou no Itaú BBA, na McKinsey e no BRZ Investimentos, da GP.
Na Peixes da Amazônia, o FIP gerido pela Kaeté fez um aporte de R$ 15 milhões e é o maior acionista. O investimento total no projeto – na forma de aportes de sócios e empréstimos bancários – foi de R$ 75 milhões. Além do fundo do BNDES, o Peixes da Amazônia tem como sócios a Agência de Negócios do Acre, a Cooperativa Central dos Piscicultores do Acre e um grupo de 18 empresários locais.
De acordo com Luís Fernando Laranja, o foco do empreendimento é a produção de peixes regionais, como pirarucu, pintado e tambaqui. As instalações em Rio Branco, em uma área de 65 hectares, incluem centro de reprodução dos animais, de produção de ração e frigorífico para processamento dos peixes.
A empresa trabalhará em sistema de integração, como ocorre na avicultura. “Os parceiros farão a engorda dos peixes. Há vários tipos de integrados, desde aqueles originários da agricultura familiar até grandes produtores”, observa. Entre os que farão a engorda dos peixes há 2.500 famílias ligadas a cinco cooperativas locais e 100 a 200 produtores de maior porte. A meta da Peixes da Amazônia, segundo Otavio Ottoni, é produzir 20 mil toneladas de pescado por ano.
Laranja afirma que o objetivo é atender os mercados de Amazonas, Acre e Rondônia e também as redes de varejo e restaurantes das regiões Sudeste e Sul. Mas exportar os peixes produzidos em Rio Branco também está nos planos, segundo Otávio Ottoni.
Afora o projeto de piscicultura, a Kaeté também trabalha em outros dois empreendimentos. Mas em ambos os casos os investimentos ainda estão em fase de aprovação. A expectativa, de acordo com os sócios da Kaeté, é de que isso ocorra no segundo semestre deste ano.
Um deles envolve o manejo de floresta nativa por uma empresa de processamento de madeira que já existe em Belém (PA). O outro projeto prevê a implantação de uma agroindústria de aves e suínos em Brasileia, no Acre. O Estado não tem esse tipo de agroindústria e hoje é abastecido por carnes de frango e de suíno produzidas nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil.
O projeto prevê integração com agricultura familiar, segundo Luís Fernando Laranja. Assim como nas agroindústrias de outras regiões do Brasil, o plano também é utilizar o sistema de parcerias com os agricultores na criação das aves e dos suínos.
Num primeiro momento, o objetivo é o abastecimento regional, mas a intenção é alcançar também as áreas de fronteira com o Peru e a Bolívia, segundo o sócio da Kaeté. E há planos mais ambiciosos para o projeto. A chamada rota do Pacífico – estrada binacional que liga o noroeste do Brasil ao litoral sul do Peru, através do Acre – pode viabilizar exportações dos itens produzidos em Brasileia para outras regiões mais distantes, diz Laranja.
Enquanto alguns projetos estão em estágio mais avançado, a Kaeté também avalia oportunidades em segmentos como processamento de açaí, babaçu, de dendê, e em saneamento. Segundo Ottoni, a Kaeté tem prazo de cinco anos para investir os recursos do Fundo de Investimentos e Participações em Empresas Sustentáveis na Amazônia, contando a partir de 2013. Mas, diante do cenário, a expectativa é concretizar os aportes num prazo menor, de três anos.
“Sempre com o mesmo foco”, de acordo com Laranja, a Kaeté também está em fase preliminar de avaliação de novos fundos. E futuros investimentos da gestora podem ter como destino também a região Nordeste. “O Nordeste tem potencial. Estamos avaliando oportunidades em proteína animal”, afirma.
A falta de abastecimento local e o crescimento da renda que eleva o consumo de proteínas explicam a aposta da Kaeté. Um dos segmentos-alvo é o do leite, tanto no Norte quanto no Nordeste. “A ideia é agregar valor”, conclui Laranja.