Um grupo de produtores de suínos do RS conseguiu o bloqueio judicial de bens da Doux Frangosul para garantir o pagamento de atrasados registrados desde agosto de 2011. A Justiça estadual em Montenegro, sede da empresa, concedeu liminares em ações individuais movidas por 13 proprietários de Unidades Produtoras de Leitões (UPLs). O grupo soma 17 mil matrizes, 60% do plantel dos integrados e mais de 40% de toda a capacidade das UPLs da Doux. O débito com os suinocultores é de R$ 2 milhões.
O Ministério Público Estadual promete para esta semana medidas dentro da investigação sobre os balanços financeiros da Doux, pedida pelo governo estadual que levantou indícios de irregularidades na remessa de receitas da filial para o grupo Doux, na França.
O juiz substituto da 1ª e 2ª Varas de Montenegro, Luís de Aguiar Desheimer, atendeu aos pedidos assegurando bens móveis em garantia da dívida, conforme um dos advogados dos produtores Evandro Muliterno de Quadros. Os bens poderão ser os próprios animais destinados a abate devido à facilidade da liquidez do ativo, explicou o advogado. Os produtores esperam que a empresa se posicione em 30 dias sobre eventual proposta de acordo judicial. Caso isso não ocorra, eles ingressarão com ações para a quitação das dívidas.
Entidades ligadas a integrados da empresa criticam a Doux por desrespeitar os cronogramas de pagamento firmados com os 2,2 mil integrados, 1,5 mil de frangos e o restante de suínos. “Queremos garantia sólida, não promessas”, avisou o advogado. “São créditos de muito tempo, o que pode comprometer a renda da atividade dos agricultores e da própria empresa.” O vice-presidente da Associação dos Criadores de Suínos (Acsurs), Jandir Pilotto, confirma que avicultores buscam informações sobre a medida. “Esperamos que este fato acelere uma solução, que pode ser a venda da empresa ou a quitação da dívida”, projetou Pilotto. Negociações entre a Doux e possíveis compradores ou investidores já foram admitidas.
A crise de pagamentos levou ao corte de um terço dos abates de frangos em Montenegro, maior unidade da Doux, efeito da redução de animais entregues pelos agricultores. Metade da categoria paralisou novos alojamentos de pintos em dezembro passado, para pressionar pelos pagamentos. Há duas semanas 700 produtores de aves e suínos, entre eles o casal Angelita Kraemer e Nilvo Kunz, decidiram, em assembleia em Porto Alegre, que só receberiam novos lotes com a quitação dos débitos. “A gente só recebe pingadinho”, lamentou Angelita.
O casal tem dívidas com bancos e já analisa trocar os aviários pela produção de carvão. “Muitos vizinhos já fizeram isso e dizem que dá dinheiro”, rende-se Kunz. Sindicatos e a Federação dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação denunciaram ao Ministério do Trabalho e ao Ministério Público do Trabalho suposta irregularidade nas férias de 350 dos 1,6 mil empregados do frigorífico em Montenegro.