Neste mês muito foi falado a respeito da fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour que não deu certo (ao menos por enquanto, com a saída do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Por outro lado, o mesmo o banco injetou R$ 400 milhões no acordo que foi feito entre a Perdigão e a Sadia, em troca de 10 milhões em ações. Detalhe: essa medida foi tomada antes mesmo da decisão definitiva do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), no último dia 13, e do órgão de defesa da concorrência concluir que as duas marcas não podem estar no mercado ao mesmo tempo.
A aplicação de dinheiro público na companhia não deixa de ser polêmica, se for levado em consideração que a fusão vai aumentar a concentração de ambas no mercado de alimentos do País (representando 40% do setor), e pode trazer prejuízo aos consumidores e fornecedores, do ponto de vista da concorrência e dos preços.
O cenário – O processo já rolava há dois anos e na ocasião, o conselheiro Carlos Ragazzo, que foi o primeiro relator, era e continua sendo contra a fusão por acreditar haver algumas contradições na política do BNDES. Mesmo assim, recentemente outro conselheiro, Ricardo Ruiz, conseguiu negociar a proposta, permitindo que a nova empresa, agora chamada de BRF Brasil Foods, pudesse concretizar a fusão, com a ajuda da consultoria LCA – fundada por Luciano Coutinho, que assumiu o BNDES -, contratada pela Sadia e a Perdigão.
Pelo acordo, a fusão foi autorizada mas terá que cumprir um Termo de Compromisso de Desempenho, que obriga a BRF Foods a vender 12 marcas menores a um só competidor de grande porte e a suspender, por até cinco anos, a Perdigão em alguns mercados, como almôndegas, lasanhas e pizzas congeladas.
O que dizem os especialistas em varejo – Para Denise Von Poser, professora de comunicação com o mercado do curso de pós-graduação da ESPM, o consumidor precisa ficar atento com o acordo para que os prazos de suspensão de alguns produtos não caíam no esquecimento e, no final das contas, a fusão se caracterize em monopólio e no aumento exacerbado dos preços dos produtos. “Por enquanto o consumidor não vai sentir tão de perto os impactos da fusão porque suas conveniências (como preço, distância e opções) ainda não foram abaladas. Mas lá na frente pode ser que sua zona de conforto mude e daí, quando ele quiser reclamar será tarde, pois o acordo já foi feito”. Ela lembra inclusive que os dados estatísticos podem mudar de acordo com a versão e lado incidente. “Não podemos esquecer, apesar da memória do brasileiro ser curta, que por enquanto a fusão diz respeito apenas a um jogo de capital aberto muito complexo, onde os acionistas manipulam o mercado com o selo da fazenda”, explica.
Ricardo Pastore, coordenador do núcleo de varejo da ESPM, pensa diferente e acredita que a melhor saída para esse segmento era mesmo a fusão, já que a Sadia corria sérios riscos de falir, em razão dos problemas que sofreu com a crise econômica de 2008. “É claro que o consumidor precisar ficar atento e se envolver mais com esses mecanismos, já que essas concentrações serão cada vez mais freqüentes. Mas a meu ver essa fusão foi positiva em função de ter evitado a quebra de uma empresa e de poder abrir espaço para novos produtores”.
Pelo sim ou pelo não, ambos são unânimes ao afirmar que o consumidor precisa fazer sua lição de casa. “Trata-se de um exercício geral, envolvendo inclusive fornecedores, varejistas e atacadistas. Afinal, o princípio básico da competição está extinto e somos um País emergente”, completa Pastore.
A nova companhia deverá realizar uma oferta pública de ações para levantar o valor estimado de R$ 4 bilhões, segundo comunicado ao mercado. Os acionistas da Sadia terão 32% de participação na nova empresa, enquanto que os acionistas da Perdigão terão 68%.