Com o avanço genético na espécie suína, nas últimas décadas, as matrizes modernas passaram a ter uma alta taxa ovulatória e um tamanho de leitegada cada vez maior. No Brasil, muitos produtores estão obtendo 14 a 16 leitões nascidos vivos por leitegada. Entretanto, quanto maior as leitegadas, maior a necessidade de um manejo especializado dos leitões durante e no pós-parto. Leitegadas numerosas tendem a atingir somente uma fração de seu real potencial de crescimento durante a fase de amamentação, uma vez que a capacidade de produção de leite da fêmea por teto reduz proporcionalmente ao aumento do número de leitões amamentados (Kim e Wu, 2008).
O aumento no tamanho da leitegada tem levado à redução do peso ao nascimento e a maior heterogeneidade dentro da leitegada, reduzindo a vitalidade até o desmame (Quesnel et al., 2008; Silva, 2010). Os leitões com baixo peso ao nascer normalmente são excluídos do acesso aos tetos funcionais pela própria desvantagem em competir com leitões mais pesados, ocasionando na insuficiente ingestão de colostro e leite, o que reduz a aquisição de imunidade passiva tornando-os susceptíveis à doenças (Wolf et al., 2008). A alta taxa de mortalidade encontrada nas granjas de alta prolificidade está geralmente relacionada às falhas de manejo de leitões recém-nascidos.
Avaliando desde o início da formação das matrizes do plantel, entendemos que a estratégia de reposição de fêmeas de uma granja é muito importante para os índices produtivos e para o status sanitário. Altas taxas de reposição anual promovem maior concentração de fêmeas jovens no planteis, o que reduz a imunidade do rebanho, refletindo negativamente sobre todo o sistema de produção. Além disso, com o aumento da concentração das fêmeas jovens, haverá consequentemente uma redução no número de fêmeas em pico de produção (ordens de parição 3 a 6), determinando a queda no número de leitões nascidos. Por isso, para manter uma ordem ideal de distribuição de partos é necessário trabalhar com uma taxa de reposição constante no plantel de 45 a 50%.
Confira abaixo as principais dificuldades encontradas na prática:
– Falha no dimensionamento de funcionários para executar o manejo;
– Falha na distribuição dos manejos entre os funcionários;
– Falta de treinamento de funcionários e de pessoas qualificadas;
– Pouca importância ao manejo por parte das lideranças;
– Falta de informação do impacto econômico deste manejo no resultado da suinocultura.
Confira também algumas situações comuns que dificultam a acomodação de um número elevado de leitões nascidos nas matrizes lactantes:
– Na maioria dos partos existem mais leitões nascidos vivos comparado com as limitações naturais das porcas;
– O fluxo de leite não é uniforme ao longo do conjunto de tetas. As glândulas peitorais produzem mais leite e os leitões mais pesados são os que buscam mamar nas tetas dianteiras;
– Algumas porcas, especialmente as mais velhas, não expõem todas as tetas principalmente durante o parto;
– Algumas tetas (individualmente) podem estar danificadas ou não funcionais;
– Fêmeas que simplesmente não produzem leite suficiente devido ao stress e à traumas durante o parto.
Para atuar nesses casos, sugerimos utilizar manejo específico aos leitões recém- nascidos durante o parto, chamado de “colostragem”:
– Em granjas menores, numerar os leitões de acordo com a ordem de nascimento, sendo que a partir do nascimento do 10º leitão, prender o primeiro e assim sucessivamente;
– Em granjas maiores, após o nascimento do 10º leitão, identificar oito leitões que já tenham mamado o colostro e prender por um período de 40 a 60 minutos, de forma que os últimos a nascerem também mamem o colostro;
– Aplicação de 10 ml de leite colostro da mãe direto no estômago, no máximo cinco minutos após o nascimento, caso demore mais tempo a glote terá maior mobilidade e dificultará a aplicação.
Portanto, torna-se muito importante definir qual a metodologia de colostragem que será adotada na granja e garantir que seja realizada.
Outra prática recomendada é a uniformização dos leitões ao nascimento. Antes de iniciar a uniformização de leitões se faz necessário o planejamento do que será executado, tais como o número de leitões a serem manejados e a necessidade de “mães de leite”. Como sugestão:
– Definir quais porcas irão receber os leitões pequenos e o número de porcas necessário;
– Para primíparas, direcionar leitões de acordo com o número de tetas, lembrando que os leitões estimulam o funcionamento do aparelho mamário.
Alguns cuidados são necessários quando ocorre excedente de leitões:
– Deve ser acompanhado a primeira mamada dos leitões uniformizados com marcação dos leitões que não mamaram;
– Retirar os leitões que não mamaram, devidamente identificados;
– Remanejar leitões identificados que não mamaram com as “mães de leite” pré-selecionadas.
Concluímos que, por se tratar de um conjunto de manejos específicos, exige dedicação especial e capacitação dos envolvidos. Os grandes responsáveis pelo sucesso e melhoria dos índices zootécnicos são os colaboradores. Motivar a equipe buscando o comprometimento de todos, discutindo acertos e erros, é um grande aliado para o sucesso de todos.
Jeovane Souza é assessor Técnico em Suínos da Vaccinar Nutrição e Saúde Animal