O crescimento econômico dos países emergentes é uma nova tendência no cenário mundial. Nesse contexto, a soma do Produto Interno Bruto (PIB) do chamado E7, grupo que reúne as sete maiores economias emergentes do mundo – China, Índia, Brasil, Indonésia, Rússia, México e Turquia, já ultrapassa, em grande escala, o total do PIB das economias do G7.
“Está havendo uma mudança das ‘placas tectônicas’ na economia global a favor dos grandes países emergentes. É o fato mais dinâmico e importante que acontece hoje no mundo e que traz oportunidades extraordinárias para o Brasil”, indicou Marcos Troyjo, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), durante reunião do Conselho de Economia da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). O encontro foi coordenado pelo presidente da instituição, Antônio Alvarenga.
Segundo Troyjo, “mesmo nesse ano difícil de 2022, o PIB do E7, medido pela paridade do poder de compra (PPC), será de US$ 60 trilhões, enquanto que o PIB do G7 (que reúne Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Alemanha, Canadá, França e Itália), com base no PPC, será de US$ 49 trilhões”.
Janela de oportunidades
Troyjo afirmou que nas próximas décadas o Brasil terá uma janela de oportunidades, através da qual irá conseguir acumular gigantescos excedentes por meio de suas exportações nos setores onde o País tem vantagens comparativas. “Mas ainda há o desafio de exportar com maior agregação de valor”, acrescentou o executivo.
“A reconfiguração das cadeias globais de valor poderá favorecer o País, dependendo do fluxo de suas relações internacionais de comércio”, ressaltou Troyjo, lembrando que em 2021 o Brasil registrou recordes históricos das exportações e do superávit comercial.
Migração
Outro aspecto ressaltado pelo presidente do banco dos BRICS foi a mudança observada em algumas economias, que deixaram de focar nas atividades baseadas no baixo custo da remuneração da força de trabalho, para se tornarem economias intensivas em tecnologia, como no caso da China.
Dessa forma, afirmou o executivo, muitas empresas saíram do país para continuar atuando em setores intensivos de trabalho no Vietnã, em Myanmar ou Bangladesh, por exemplo.
Demanda
O movimento de reconfiguração da demanda foi também outro fator de mudança apontado pelo executivo no contexto econômico global. O fluxo comercial do Brasil com a China em 2001, lembrou Troyjo, “era de US$ 1 bilhão por ano e hoje é de US$ 1 bilhão a cada 60 horas”.
“Nos próximos 10 anos a China vai importar US$ 25 trilhões, ou seja, US$ 2.5 trilhões ao ano. Se o Brasil mantiver a mesma faixa percentual que ele ocupa no total das compras externas chinesas, que é de 4%, vai vender US$ 100 bilhões ao ano. Em 2021, as vendas para China já chegaram a US$ 80 bilhões”, destacou o executivo.
“Hoje o Brasil exporta mais para a China do que para a União Europeia, Estados Unidos e América do Sul juntos. Exporta mais para Bangladesh do que para a Dinamarca, Austrália e Israel juntos. Exporta mais para a Malásia do que para a Itália, mais para a Tailândia do que para a França”, afirmou Troyjo, acrescentando que o País tem uma grande tendência para receber investimentos estrangeiros diretos, como no caso dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita.
Índia
Troyjo indicou ainda que, nos últimos cinco anos, a economia da Índia cresceu mais do que a China. “O comércio bilateral do Brasil com a China está hoje em torno de US$ 140 bilhões ao ano e com a Índia está em US$ 9 bilhões, ou seja, temos um espaço gigantesco para aumentar com esse país”.
Infraestrutura e alimentos
O executivo ressaltou que o crescimento das economias também leva a um aumento da renda per capita, fazendo com que as pessoas multipliquem a ingestão de alimentos e calorias.
“Esse contexto favorece também a ampliação dos investimentos em infraestrutura”, disse Troyjo, lembrando que o setor sofreu mudanças com os avanços tecnológicos. “O mundo vai precisar de comida e infraestrutura”.
O presidente do banco dos BRICS destacou ainda que a tecnologia está rompendo com a divisão de setor primário, secundário e terciário. “Hoje temos muito mais tecnologia embutida num grão de soja do que numa peça de manufatura”.
Financiamentos
Ainda durante o encontro na SNA, Troyjo afirmou que o Novo Banco de Desenvolvimento é o símbolo das economias emergentes.
“É nesse banco multilateral que o Brasil tem o seu maior patrimônio acionado”, disse ele, anunciando que a instituição aprovou recentemente um acordo de R$ 1 bilhão com o Banco do Brasil na área de infraestrutura para o financiamento de sistemas de irrigação em propriedades rurais.
Além disso, Troyjo informou que dos R$ 170 bilhões em recursos que o banco está disponibilizando para o financiamento com foco em infraestrutura para o setor privado nos próximos cinco anos, pelo menos R$ 20 bilhões serão aplicados no Brasil (neste período, serão R$ 4 bilhões ao ano). “O setor privado passou a ser um grande agregador de valor”, destacou o executivo.
Ainda durante a reunião na SNA, os participantes apresentaram algumas sugestões ao presidente do banco dos BRICS para investimentos em infraestrutura no País nas áreas de segurança, energia e utilização de recursos hídricos.
Presenças
Estiveram presentes ao encontro do Conselho de Economia Antônio Carlos Pinheiro, Presidente da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex); José Antônio do Nascimento Brito, Presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ); Daniel Homem de Carvalho, Vice-Presidente jurídico da ACRJ; Roberto Motta, engenheiro e escritor; Hélio Sirimarco e Tito Ryff, Vice-Presidentes da SNA; Francisco Villela, Leonardo Alvarenga, Sérgio Malta e Thomas Tosta de Sá, Diretores da instituição; Ruy Otavio Andrade, membro da Conselho Fiscal da SNA, e os economistas Carlos Thadeu de Freitas (Confederação Nacional do Comércio), Hélio Portocarrero, Márcio Fortes de Almeida, Ney Brito e Paulo Tarso de Medeiros.