Redação (20/03/2009) – A Marfrig S.A., que fechou 2008 com prejuízo de R$ 35,5 milhões e margem líquida negativa de 0,6% pressionada pela desvalorização cambial, está com menos apetite para aquisições este ano. "O ativo mais barato para comprar é nossa capacidade ociosa", disse o presidente da empresa, Marcos Molina, quando instado a falar sobre eventuais aquisições no segmento de carne bovina, no qual há empresas deixando de operar no Brasil por conta de dificuldades financeiras.
No ano passado, a Marfrig utilizou, em média, 51% de sua capacidade de abate de 21.100 cabeças de bovinos por dia em suas unidades do Brasil, Argentina e Uruguai. A baixa utilização reflete a escassez de animais no Brasil, onde o abate da Marfrig caiu 19% no último trimestre sobre o período anterior. No total, o abate da empresa nos três países ficou praticamente estável, em 2,478 milhões de cabeças.
Molina disse que o nível de utilização ideal está na casa de 70%, mas admite que é difícil alcançá-lo este ano. "Mas vamos fazer mais do que no ano passado porque haverá oferta maior de gado", observou. Segundo ele, o abate já cresce em relação e aumentará gradativamente à medida em que a demanda crescer. "A demanda da Europa está melhorando e a da Rússia também".
De acordo com o empresário, a Marfrig pode crescer este ano, sem fazer aquisições, apenas ocupando a capacidade que já dispõe. Isso também vale para frangos e suínos, segmento em que a Marfrig entrou agressivamente no ano passado, com a aquisição dos ativos da americana OSI na Europa e Brasil, além de ovinos.
Com a consolidação das novas operações e a sinergia decorrente delas, a Marfrig prevê uma receita líquida entre R$ 10,5 e 12,0 bilhões este ano, 70% a 90% a mais que em 2007, segundo Ricardo Florence, diretor de relações com investidores.
A escassez de oferta de gado, as restrições da UE à carne brasileira e a queda das vendas para a Rússia fizeram a divisão de bovinos da Marfrig no Brasil ter redução de 12,7% em sua receita líquida, que ficou em R$ 1,690 bilhão em 2008. Mas a Marfrig conseguiu elevar as receitas na Argentina e Uruguai, que acabaram atendendo aos clientes europeus, já que as vendas brasileiras de carne in natura foram restringidas. Na Argentina, as vendas líquidas cresceram 203%, para R$ 1,048 milhões. No Uruguai, a alta foi de 100,4% sobre 2007, para R$ 966,9 milhões.
Graças às aquisições feitas em 2008, a receita bruta da Marfrig alcançou R$ 6,775 bilhões, um aumento de 81,8% sobre os R$ 3,726 bilhões de 2007. O EBITDA da Marfrig foi de R$ 884,4 milhões, um aumento de 132,6%, também por conta das aquisições. A margem EBITDA da empresa também melhorou, saindo de 11,4% em 2007 para 14,3% em 2008.
Já a margem líquida foi a primeira negativa na história da Marfrig – em 2007, ano em a empresa lucrou R$ 84,9 milhões, havia sido de 2,5%. Florence explicou que tanto resultado final quanto a margem foram afetados pelo câmbio, que impactou o endividamento de longo prazo da Marfrig. Como tem 81,6% de seu endividamento total (R$ 4,313 bilhões) em moeda estrangeira, a alta do dólar gerou um efeito líquido negativo de R$ 743,6 milhões, segundo a Marfrig. Assim, o resultado financeiro líquido foi uma despesa financeira de R$ 961,1 milhões.
A empresa elevou as exportações em 2008, em 60,1%, para R$ 2,891 bilhões, mas o peso das vendas externas caiu para 46,6% da receita líquida – era de 54,1% em 2007.