Dá pra fazer e nós vamos mostrar”. O primeiro diretor de sustentabilidade da Marfrig assumiu o cargo recém-criado na empresa com um projeto audacioso para uma indústria de carnes: monitorar as emissões de gases-estufa de suas 152 unidades em 22 países. Clever Ávila se antecede à pergunta. “Confesso que estamos numa fase reativa ao Ministério Público, ao governo, às ONGs e aos nossos clientes. Mas isso nos dá a vantagem de assumirmos compromissos antes dos outros”.
Atingido nos últimos anos pela acusação do Ministério Público de corresponsabilidade no desmatamento da Amazônia, pressionado por “stakeholders” – todos os interessados na atividade da empresa, de funcionários a clientes e acionistas – e de olho no mercado de capitais, o grupo prepara uma arrumação na casa para se vender melhor. Afinal, trata-se de uma questão de sobrevivência, diz o executivo.
“Temos recebido clientes que nem sempre querem saber do produto ou processo de produção. Eles nos perguntam sobre a racionalização dos insumos, sobre a questão do trabalho escravo e infantil “, conta. O mapeamento das emissões de gases, por exemplo, foi exigência dos clientes – a rede varejista britânica Tesco e o McDonald’s entre eles.
Até o fim de maio, a Marfrig deverá consolidar os números referentes aos rebanhos bovino, ovino, suíno e aves de todas as suas unidades brasileiras e das aquisições internacionais, desde os incubatórios e fazendas responsáveis pela engorda de bovinos à entrega dos produtos ao primeiro centro de distribuição.
A primeira fase do projeto, que se encerra agora, foi de definição dos limites do estudo. “Não é possível ainda inventariar a cadeia produtiva desde o início [incluindo as fazendas de cria e recria] porque é muito difícil”, diz Claudio Bicudo Mendonça, consultor da WayCarbon, que dá assessoria ambiental ao grupo.
Após 30 anos na Seara Alimentos, adquirida pela Marfrig em 2009, onde estava envolvido em uma área de atuação similar, Ávila chega à Marfrig sem um orçamento próprio para a pasta e sem um projeto em que o possa dizer ser a sua “menina dos olhos”. O desafio, diz, é incutir o conceito de forma transversal na empresa e alinhavar as diferentes culturas que compõem hoje o grupo. São 90 mil funcionários no mundo.
Em fevereiro
Um mês após a sua chegada – ele organizou o primeiro workshop de sustentabilidade em São Paulo. Segundo ele, vieram entre quatro e seis representantes das seis divisões do grupo. A intenção é implementar uma linguagem unificada e programas globais de monitoramento e controle ambiental.
Ávila diz que a troca de experiências é fundamental nesse processo. Ele quer exportar “cases” de sucesso do Brasil e importar boas ideias. Daqui, cita como exemplo a reciclagem de água das fábricas e projetos de aproveitação de biomassa para geração de energia. Do exterior, ferramentas criadas para diminuir ruídos da frota de distribuição.
A Marfrig pretende também criar monitoramentos de cada unidade, como emissões de poluentes, consumo de água, energia e geração de resíduos, com metas de redução para tudo isso. “Essas ações todas são por conta do mercado”, diz Mendonça.
A empresa já participou de dois questionários considerados referência na área – o Carbon Disclosure Project (CDP) e o Forest Footprint Disclosure (FFD). Agora, pretende realizá-lo novamente para o grupo inteiro. Desde o ano passado no ICO2 (Índice de Carbono Eficiente da Bovespa), a empresa almeja agora o ISE, Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), também da Bovespa.
Nos últimos três anos, a Marfrig fez várias aquisições entre elas a Seara e a americana Keystone Foods, que atua na produção e distribuição para o food service. Nesta semana, anunciou a criação de duas joint ventures na China.