As margens dos frigoríficos de carne bovina melhoraram, recentemente, em relação ao registrado no início do ano, segundo analistas, após o fechamento de diversas plantas e readequação da capacidade da indústria.
Mas esse cenário ainda não é sustentável para o ano, já que a entrada da entressafra deve voltar a elevar os preços da arroba, ao mesmo tempo em que a crise econômica que atinge o país limita o repasse de aumento do preço do boi para a carne vendida ao consumidor final.
A margem da indústria frigorífica de desossa está em cerca de 22,5%, disse o zootecnista e consultor de mercado da Scot Consultoria, Alex Lopes, à CarneTec, na terça-feira (28). Esse resultado é melhor que o registrado no mesmo período do ano passado e representa uma recuperação após ter atingido patamares de 8% a 9% no início do ano.
A margem calculada pela Scot considera a receita do frigorífico em relação ao preço pago pelo boi gordo, sem incluir outros custos de produção. Cerca de 80% dos custos da indústria frigorífica estão relacionados ao boi gordo.
Ao colocar menos carne no mercado, os frigoríficos conseguiram manter o preço da carne bovina em valores sustentáveis, explica o consultor.
“Mas no segundo semestre, a gente espera que haja novamente uma pressão sobre as margens”, disse Lopes. “A partir de agora, o valor da arroba deve se recuperar, a oferta de boiada vai diminuir”, acrescentou, ao se referir à entrada do período de entressafra.
O pico da entressafra costuma ocorrer em outubro e novembro, quando os preços do boi devem atingir patamares mais altos.
Neste ano, até agora, dezenas de frigoríficos já fecharam suas atividades, diante da redução da disponibilidade de boi gordo para abate – o que elevou o preço da arroba – e da queda no consumo interno.
Com o atual ajuste na produção realizado pelos frigoríficos, o preço da arroba caiu momentaneamente. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, entre 22 e 29 de julho, o indicador de preço para o boi gordo no estado de São Paulo caiu 0,5%, fechando a R$ 141,30 na quarta-feira (29).
“Neste mês, o preço médio da carne com osso no atacado da Grande São Paulo está praticamente igual ao pago pela arroba de boi neste estado, refletindo em melhora na remuneração obtida pela indústria frigorífica”, informaram analistas do Cepea em nota no seu website na quinta-feira.
Segundo o Cepea, de dezembro de 2013 a junho de 2015, o preço pago pela arroba superava o valor obtido com a venda da carne com osso no atacado.
Nesta semana, o CEO Global da JBS, Wesley Batista, chegou a mencionar durante evento em São Paulo que a empresa, por hora, não planejava fechar mais unidades industriais, mas não descartou realizar ajustes se o consumo doméstico continuar piorando e as exportações não reagirem. Até agora, a JBS fechou cinco plantas no país.
As exportações de carne bovina brasileira de janeiro a junho caíram 14% em volume, para 656 mil toneladas.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), compilados até a quarta semana de julho, mostram que a média diária das vendas externas da carne bovina in natura em volume neste mês ainda estavam cerca de 21% abaixo dos valores registrados em igual período do ano passado.