Depois de paralisar as atividades de suas unidades de abate de bovinos na última semana, o Mataboi, que pediu recuperação judicial na terça-feira, planeja retomar “paulatinamente” as operações. Segundo Rubens Vicente, diretor administrativo e de marketing da companhia, a planta de Araguari (MG) voltou a abater animais ontem. O Mataboi tem ainda fábricas nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Além de suspender abates por falta de capital de giro, a empresa demitiu 900 de seus 3 mil funcionários na última semana.
Com dívidas de cerca de R$ 360 milhões – principalmente com bancos -, o frigorífico se juntou à lista de outras 10 empresas do segmento que pediram recuperação judicial no país desde 2009. Entre as principais que tiveram o pedido de recuperação aprovado estão Independência, Frialto, Quatro Marcos, Arantes Alimentos e Frigol.
No pedido de recuperação, apresentado à comarca de Araguari, o Mataboi afirma que solicita a proteção contra a falência “para viabilizar a superação de sua passageira crise econômico-financeira”. Como outros frigoríficos de carne bovina que recorreram ao instrumento, o Mataboi responsabiliza também a crise financeira mundial de 2008 – que secou o crédito para vários setores – e a redução da oferta de bovinos para abate pelas dificuldades que levaram ao pedido de recuperação.
Mas, segundo o Mataboi, nada “foi mais nocivo à empresa e ao ramo frigorífico como um todo quanto a ação agressiva da concorrência”, referindo-se, sem citar nomes, a frigoríficos como JBS e Marfrig. Júlio Mandel, advogado que representa a empresa, afirma que grandes grupos frigoríficos receberam dinheiro público para investir em suas operações, o que não ocorreu com o Mataboi.
De acordo com a empresa, fundada há 60 anos, bloqueios de recursos – por instituições financeiras – em sua conta bancária recentemente agravaram a situação.
Com capacidade de abate de 2.800 animais por dia em suas unidades, o Mataboi faturou R$ 1,158 bilhão ano passado. Além de atuar com venda de carne bovina no mercado doméstico, a companhia também exporta para países da Europa, Oriente Médio, Ásia e África.
Diante do pedido de recuperação do Mataboi, Luciano Vacari, superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), voltou a defender que os pecuaristas só vendam gado à vista para evitar calote. “Isso [pedido de recuperação] só acontece por problema de gestão e porque não foram atendidos pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – que continua com a política de só beneficiar as grandes empresas como JBS e Marfrig”, disse o superintendente da Acrimat em nota.