Desde o início das medidas restritivas para o controle da pandemia da Covid-19 no Brasil, no final de março, houve uma queda acentuada dos preços pagos aos produtores, provocada pela redução significativa dos canais de venda, principalmente de food service.
Conforme o gráfico 1, do CEPEA, em algumas praças o preço pago pelo suíno vivo caiu até 40% em relação ao patamar de antes da chegada da doença ao país, se aproximando de R$ 3,00/kg.
Mas, nas últimas semanas houve uma reversão da tendência de queda, com estabilização e posterior recuperação dos preços, especialmente no mercado de Minas Gerais que, nos últimos dias descolou-se dos demais, com uma recuperação mais rápida e consistente dos preços pagos aos produtores, sendo que a bolsa de Belo Horizonte no dia 07 de maio fechou a R$ 5,00 como valor base para a comercialização na semana seguinte.
A grande dúvida é se esta recuperação de preços se sustenta nas próximas semanas. A reposição de estoques do atacado e varejo, o início do inverno e a flexibilização das medidas restritivas em alguns importantes centros urbanos são favoráveis a esta recuperação.
Exportações e oportunidades para o Brasil
As exportações se mantêm em ritmo muito bom (tabela 1). Segundo dados da Secex, a média diária de embarques de carne suína in natura em abril de 2020 foi de 3,1 mil toneladas, alta de 9% frente ao mês de março. No total de abril, foram exportadas 62,9 mil toneladas de carne suína, um leve recuo de 0,6% frente ao resultado de março (devido ao menor número de dias úteis: 20dd x 21dd), mas houve incremento de 17,5% na comparação com abril de 2019.
Ainda sobre exportações, a China ganha cada vez mais espaço nos embarques do Brasil. No acumulado do ano esse destino já representa 53,1% das nossas exportações de carne suína in natura e, um fator muito relevante, que pode abrir mais espaço para este mercado é a redução significativa do abate nos EUA, em função se surtos de Covid-19 nos colaboradores das linhas de produção norte-americanas. Estima-se que até 30% do abate de suínos nos EUA tenha sido comprometido, com perdas ao redor de 700 mil animais por semana que tiveram que ser sacrificados, sem aproveitamento industrial.
A redução do abate impôs perdas graves aos produtores norte-americanos que viram os preços pagos ao suíno despencarem e, por outro lado, trouxe desabastecimento e encarecimento da carne suína vendida ao consumidor. Esta situação é temporária, mas segundo analistas, pode interferir significativamente na oferta de carne suína norte-americana para exportação, em especial para a China, e isso poderia abrir mais espaço para a carne suína brasileira, principalmente com a cotação do dólar se aproximando de R$ 6,00 no Brasil.
Apesar disso, ainda existe uma dúvida: O Brasil terá condições de ultrapassar as 66 mil toneladas mensais de exportação de carne suína in natura? Esta oportunidade criada pela interdição das plantas norte-americanas poderá demonstrar se será necessária a habilitação de mais plantas frigoríficas brasileiras ou se a estrutura atual consegue ultrapassar a barreira do volume supracitado.
Dados de exportação do MDIC da primeira semana de maio, com cinco dias úteis, indicam que o mês começou muito promissor com uma média diária embarcada da ordem de quase 6 mil toneladas de carne suína in natura, totalizando 29.775 toneladas até o dia 08 de maio. Dificilmente este ritmo elevado de embarques deve se manter ao longo de todo o mês, mas se extrapolarmos esta média da primeira semana para os 20 dias úteis de maio, pelo menos do ponto de vista de logística, teríamos potencial de chegar a quase 120 mil toneladas em maio. Em termos de exportação mês de maio promete ser vantajoso.
Produção estável, mas com custo ainda elevado. Produtores estão de olho no clima.
Mesmo após colheita recorde de soja no Brasil, o grão mantém-se valorizado (gráfico 2). Segundo MBAgro, as cotações passaram dos R$100 reais em várias praças de comercialização, em grande parte devido à forte desvalorização do Real. Levando-se em conta os embarques médios diários divulgados pela Secex, a exportação de soja do Brasil atingiu o recorde de 16,3 milhões de toneladas em abril.
O recorde anterior, de acordo com a Secex, havia sido registrado em maio de 2018, com embarques de 12,4 milhões de toneladas. A elevação da mistura de biodiesel no diesel para 12% pode determinar maior esmagamento de soja, o que reduziria a exportação dessa oleaginosa e determinaria maior disponibilidade de farelo. Entretanto, a crise econômica deixa em aberto qual será a demanda efetiva de biodiesel no mercado brasileiro e, consequentemente, o tamanho do esmagamento. O fato é que não há, ao menos no curto prazo, sinais de queda do preço da soja e seus derivados no mercado interno.
O milho, que havia atingido preço recorde em março, experimentou uma queda significativa ao longo do mês de abril (gráfico 3). Já no início de maio a queda de preços do grão estabilizou, apresentando uma tendência de nova alta, mas em ritmo bem menor do que ocorreu no início do ano. Segundo o CEPEA, para setembro ainda há viés de queda nas cotações.
Com a primeira safra de milho já definida, agora as atenções voltam-se para a segunda safra, com foco especial sobre o clima. Segundo o MBAgro em abril o clima mais seco trouxe apreensão para Paraná e Mato Grosso do Sul. Nesses estados já há comprometimento do potencial produtivo e precisa de chuvas na primeira quinzena de maio para que se estabilize a produção.
No Mato Grosso a safra vem muito bem, não havendo perspectiva de perdas até agora. A referida consultoria estima que a produção possa alcançar os 70 milhões de toneladas se as chuvas previstas para maio ocorrerem de forma generalizada. Lembrando que as estimativas anteriores da CONAB eram de um volume de cerca de 75 milhões de toneladas. Há também apreensão quanto a geadas nos estados mais ao Sul do país. Espera-se uma frente fria em meados de maio que pode levar a formação de geadas. Por enquanto, a previsão é que a ocorrência se dará de forma mais pontual sem impactar massivamente as áreas produtoras.
Ainda segundo o MBAGro, o Deral, órgão do estado do Paraná divulgou na semana de 4 de maio, relatório sobre a qualidade das lavouras de milho de segunda safra do estado, indicando que 61% das áreas estão boas, 33% estão em médias e 6% com condições ruins. No levantamento anterior, ainda eram 80% das áreas com boas condições no estado, ou seja, houve uma queda de 19 pontos percentuais de uma semana para outra.
Com a pandemia da Covid-19 cada vez mais agressiva no Brasil, o produtor deve redobrar a atenção sobre novos indicadores. O que preocupa, em relação ao mercado interno, é o aumento exponencial de novos casos e mortes por Covid-19. O agravamento da doença poderá determinar o lockdown em grandes centros consumidores (protocolo de isolamento que tem sido adotado por algumas cidades e que estabelece como obrigatório o bloqueio total da circulação de pessoas e veículos), comprometendo a demanda e também ameaçando o equilíbrio da cadeia de suprimentos.
Segundo o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, além das questões inerentes à atividade propriamente dita, como custos dos insumos, produtividade, gestão e comercialização dos suínos, é preciso ficar atento aos movimentos dos estados e municípios quanto às medidas restritivas que podem afetar a demanda pela carne e a oferta de insumos.
“Não podemos subestimar a doença. Devemos reforçar a comunicação rotineira com as equipes para que mantenham os cuidados no trabalho e em casa. A proteção da saúde dos colaboradores deve ser prioridade, com a manutenção das medidas preventivas que incluem uso de máscara, distanciamento, higienização pessoal e do ambiente”, ressaltou o presidente da ABCS, quanto aos cuidados necessários nas granjas e frigoríficos.