A JBS, um dos grupos que detém o protagonismo nesse mercado, é a maior empresa fornecedora de proteína animal do mundo. Esse status foi obtido na última década, principalmente de financiamentos bilionários concedidos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Hoje, as marcas pertencentes a esse grupo chegam a 150 países. São mais de 200 mil funcionários espalhados pelo mundo. Por isso, é impossível descolar o desempenho brasileiro no mercado mundial de carnes do resultado da JBS.
Com as ações da companhia caindo na casa de dois dígitos na bolsa nesta quinta-feira (18), com uma economia cambaleante e com a incerteza política, o que esperar então do segmento de proteína animal no Brasil em 2017?
Apesar de o cenário soar com certo ar de tragédia em um primeiro momento, Fernando Henriques Iglesias, analista de mercado da Safras e Mercados, vê um horizonte de certo otimismo para a proteína animal brasileira. “O primeiro aspecto a ser analisado é a paridade cambial, pois com o real se desvalorizando, isso deixa as commodities brasileiras mais competitivas. Além disso, não tem nenhum outro país no mercado internacional capaz de suprir o volume que o Brasil oferta”, aponta. “O que pode acontecer é que o importador deve tentar conseguir preço mais vantajoso, mas de uma maneira geral Brasil vai continuar sendo um player muito forte”, completa.
Caio Toledo, consultor de pecuária da INTL FCStone, enfatiza que a insegurança inevitavelmente vai dominar o mercado – especialmente nesses primeiros dias. “Surgem especulações, mas o mercado de carnes não deve ter nenhuma variação pelo envolvimento da JBS nos escândalos. O que pode afetar, sim, seria algo econômico. A volta do desemprego, a queda da renda, isso sim poderia afetar o consumo de carnes. Mas em linhas gerais as pessoas não vão deixar de comer carne porque a JBS está envolvida em um escândalo político”, avalia.
Preços vão baixar, diz coordenador do LapBov
Já Paulo Rossi, zootecnista, coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o LapBov, está mais receoso quanto aos próximos episódios dessa história. Para ele, os preços no mercado interno, inevitavelmente, vão baixar. “Ainda é especulação, mas se a investigação virar para o lado da JBS, a empresa vai ter dificuldade para operar. E o setor já está com dificuldade, o consumo interno está ruim e a exportação segue freada por causa da operação Carne Fraca. Se de repente o maior frigorífico para de operar, ou seja, parar de comprar carne, isso gera problema”, analisa.