Muitos já devem ter escutado a expressão “milho é milho”, a qual na maioria das vezes é indicativo de que não se dá a devida importância para a qualidade desse ingrediente quando utilizado como matéria prima nas rações de suínos.
Na suinocultura o milho é um dos principais ingredientes energéticos utilizado desde as fases de creche, reprodução até a engorda. Porém, muitas vezes, a importância de seu uso está atrelada somente à variação de preços e os impactos no custo das rações. Realmente o milho tem um impacto significativo no custo das rações, devido principalmente a alta inclusão nas fórmulas.
No entanto, a qualidade deste ingrediente tem um impacto muito maior sobre o balanço nutricional das dietas, bem como no desempenho dos suínos e na rentabilidade da produção. Essa variação de qualidade influencia diretamente na quantidade de nutrientes e na disponibilidade destes para que os animais possam utilizar em prol da maximização do seu desempenho zootécnico.
Alguns fatores são cruciais para a avaliação da qualidade nutricional deste ingrediente, podendo ir desde uma simples classificação do tipo de milho até análises laboratoriais que quantifiquem nutrientes e possíveis contaminantes que estão presentes.
A análise visual do milho é o primeiro indicativo de sua qualidade, a qual confirmada pela classificação do padrão (Tipo), dão indicativos da qualidade deste ingrediente. A presença de impurezas como insetos, palhada, sabugo, pedra, e outros materiais estranhos na carga aponta que parte do peso recebido não se trata de ingrediente em questão, o que significa que há uma perda por contaminantes. A classificação com a diferenciação entre grãos carunchados, avariados, quebrados, impurezas e matérias estranhas indica o Tipo do milho, que tem variação de 1 a 3, sendo 1 o de melhor qualidade e acima de 3 considerado “Fora de Tipo” o qual não é aconselhado o uso na suinocultura. Além destes parâmetros, a quantificação de umidade, que não deve ultrapassar 14%, e densidade acima de 700kg/m3 deste ingrediente auxiliam na avaliação inicial desta qualidade.
Por se tratar de um ingrediente energético, a mensuração de densidade do milho auxilia na avaliação do nível de energia, a qual está relacionada em sua grande maioria com percentual de amido presente no grão, ou seja, quanto maior a densidade, maior o teor de amido e maior será a transformação deste em energia. Diversos autores relatam que conforme reduz a densidade do milho reduz o nível energético do mesmo, bem como a digestibilidade deste e de outros nutrientes como proteína e extrato etéreo.
Considerando os valores nutricionais de referências, publicados por Rostagno et al. (2017), para milho de aproximadamente 7,86% de proteína bruta (PB), energia metabolizável para suínos de 3.360,0kcal/kg e lisina total (LIS) de 0,23%, além dos outros nutrientes, a contribuição nutricional do milho na dieta, devido a sua alta inclusão (acima de 50%), tem impacto muito importante sobre os níveis nutricionais da mesma. Em uma simulação, utilizando os valores de referência em conjunto com as exigências nutricionais de suínos machos castrados, de alto potencial genético, com desempenho médio-superior, em fase de engorda, do autor citado acima, podemos concluir que o milho contribui com o atendimento das exigências nutricionais de aproximadamente 60 a 70% da EM para suínos, 25 a 50% da PB, 9 a 20% da LIS e 13 a 50% para os outros aminoácidos (metionina+cisteína, treonina e triptofano).
Levando em consideração as informações e simulação acima, conclui-se que o milho é um ingrediente de grande importância na nutrição de suínos, mas além disso, que os cuidados tomados na compra, classificação e seleção deste podem influenciar diretamente o desempenho dos suínos. Existem vários estudos de avaliação de milho, as quais demonstram que a variação da densidade de aproximadamente 200kg/m3, pode apresentar redução de mais de 100kcal/kg de Energia Metabolizável (EM) e de 15% do coeficiente de digestibilidade de proteína. Esta variação de densidade e de disponibilidade dos nutrientes pode ocasionar variações 30 a 100kcal/kg de EM (2 a 5%, respectivamente), de 0,5 a 1,0% de proteína digestível, além da redução dos outros nutrientes.
Existem na literatura muitos estudos que demonstram efeito linear entre diferentes níveis de energia metabolizável das dietas e conversão alimentar (CA), sendo que a redução no nível de EM piora a CA, principalmente em função do maior consumo de ração pelos suínos, na tentativa de atender a necessidade energética. Em regiões de clima quente, essa piora na conversão pode ser mais pronunciada, tendo em vista que os suínos podem estar sob estresse térmico, o que reduz o consumo de ração, afetando outros parâmetros como ganho de peso e peso final dos animais, além disso, caso ocorra aumento de consumo, o mesmo terá impacto no aumento de incremento calórico (IC), podendo piorar a condição de estresse térmico dos animais.
A aquisição do milho e as análises a serem realizadas, para comprovação de sua qualidade, não devem ser negligenciadas pois impactarão diretamente no desempenho do plantel de suínos, bem como na rentabilidade da produção.
Referências Bibliográficas
ROSTAGNO, H.S., ALBINO, L.F.T., HANNAS,M I.,et al. Tabelas brasileiras para aves e suínos. ED. ROSTAGNO, H.S. Viçosa: UFV, 252p., 2017
Autor: Matias Djalma Appelt, zootecnista, mestre em Nutrição Animal e especialista em Nutrição Animal da Vaccinar.