A suinocultura passa por uma das maiores crises da história, motivada pelos altos custos de produção, excesso de oferta de produção de suínos e baixo preço pago ao suinocultor. Essa crise prolongada não afeta nas mesmas proporções suinocultores independentes e aqueles integrados às agroindústrias, uma vez que os suinocultores em sistemas de produção independente conseguem obter maior flexibilidade e ganhar mercado em momentos desafiadores.
O modelo independente conta com produtores rurais tradicionais, que compram insumos para produção e comercializam os suínos com a agroindústria sem a presença de vínculos contratuais formais. O modelo denominado ciclo completo envolve todas as fases de produção em um mesmo local, desde o nascimento até a venda para o abate.
No sistema integrado a pessoa jurídica é proprietária de grande parte dos fatores de pro- produção, sendo o suinocultor o fornecedor de serviços com especialização em alguma função da atividade produtiva. Neste modelo de produção temos vários arranjos produtivos, aqui destacamos dois deles: unidade produtora de leitões (UPL) e unidade terminadora (UT).
Visando analisar o risco da suinocultura integrada e independente, foram analisados da- dos de 5 regiões produtoras de leitões (UPL) com modais médios de 670 matrizes com 29,00 desmamados por fêmea por ano (DFA) e área produtiva de 3.393 m². Já o modal de unidade terminadora (UT), é representado por 7 regiões com área produtiva média de 1.473 m², com 4.414,00 terminados por ano. Por fim, no modal em ciclo completo, representado por 3 regiões, possui em média 800 matrizes com 29,5 desmamados por fêmea por ano e área produtiva de 5.581 m².
A fim de apresentar as margens e a lucratividade das cadeias integrada e independente, foi analisada a evolução de dados econômicos para as cadeias e regiões apresentadas desde 2019 a 2022, ou seja, nos últimos 4 anos, todos os dados pertencem ao projeto Campo Futuro, conduzido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
Para demostrar as margens, lucratividade e risco das atividades precisamos entender os indicadores nos quais demostram tais resultados, sendo: a receita bruta (RB) é contabilizada considerando a entrega de cevados e animais de descarte. Já o custo operacional total (COT) de produção é constituído pelo custo operacional efetivo, somado ao custo de depreciação (máquinas, equipamentos e benfeitorias) e ao pró-labore do proprietário. Por fim, a diferença entre a RB e COT resultam na margem líquida (ML), que demostra a capacidade do sistema produtivo de remunerar os custos efetivo, custos com depreciação e pró-labore visando a sustentabilidade do empreendimento no médio/longo prazo.
A fim de tornar a análise comparativa mais linear entre os diferentes modelos produtivos, os resultados serão apresentados em R$/m². O gráfico 1 demonstra a evolução da renda, custo operacional total e margens para a atividade de ciclo completo em R$/m² obtido para cada ano do período analisado.
Gráfico 1. Evolução dos resultados econômicos na cadeia independente
A fim de tornar a análise comparativa mais linear entre os diferentes modelos produtivos, os resultados serão apresentados em R$/m². O gráfico 1 demonstra a evolução da renda, custo operacional total e margens para a atividade de ciclo completo em R$/m² obtido para cada ano do período analisado.
Avaliando a evolução da margem líquida da atividade de suinocultura independente ao longo dos últimos 4 anos, observamos uma elevação dos ganhos no ano de 2020, justificado pelo período de pandemia que
trouxe forte elevação dos preços do suíno no mercado doméstico, puxado pelos auxílios governamentais, ao passo que os preços dos principais componentes do custo não seguiram o mesmo comportamento para este período, logo, favorecendo os ganhos.
Já no ano de 2021, com a cadeia de suprimentos afetada provocando elevação dos custos de produção, o produtor obteve menor relação de troca. Por fim, no ano de 2022, a maior oferta de suíno no mercado doméstico, favorecida pelo aumento da produção doméstica, somado com o menor poder de compra do consumidor no pós-pandemia, destruiu a renda do produtor, e o preço dos insumos para ração não decresceram na mesma proporção, ou seja, levando a atividade ao prejuízo econômico no ano corrente.
Diante desta sequência de acontecimentos, precisamos avaliar também o comportamento na cadeia integrada para tornar a análise mais clara e compreensível para o produtor.
Gráfico 2. Evolução dos resultados econômicos na cadeia integrada
Na cadeia integrada onde está se envolvendo as unidades produtoras de leitões e unidades terminadoras, observa-se no gráfico 2 um cenário mais negativo ao longo dos 4 anos analisados. Nota-se que em 2020 se seguiu um comportamento semelhante do observado no gráfico 1 para a cadeia independente.
Nos anos de 2021 e 2022 se observam uma elevação da renda bruta e custo operacional efetivo, no entanto, proporcionalmente maiores do observado nos dois anos anteriores. Do ponto de vista da renda, apesar da evolução, houve uma estagnação no período, ao passo que o custo operacional total cresceu 3,16%, desta forma agravando a margem líquida que estava em –R$ 14,99 por m² para –R$ 21,74 por m².
No setor integrado o investimento em infra- estrutura que são de responsabilidade do produtor parceiro, sofreu forte elevação dos insumos como aço, cimento e afins no período pandêmico em razão do comprometimento da cadeia de suprimentos global, desta forma, tornou-se mais caro construir uma UPL ou uma UT. Logo, os custos com depreciação ficaram maiores em um cenário onde não houve evolução das receitas do produtor integrado, ou seja, os dados atuais estão demostrando não ser viável a ampliação ou construção de novos projetos.
Outra forma de analisar os dois modelos produtivos, é por meio da lucratividade. Através dela é possível avaliar o percentual de sobra que a empresa permite, informação muito importante para a tomada de decisão, visto que, a partir das expectativas de oscilações de preços, temos um parâmetro de risco da atividade. Isso porque quanto menor for a lucratividade, mais próximo da receita estará o custo e, portanto, maior o risco da atividade. Diante disso, uma granja com risco alto ou baixo nos levará a uma reflexão sobre o sistema de produção utilizado e sobre sua eficiência.
O gráfico 3 apresenta a evolução da lucratividade das cadeias integradas e independentes ao longo dos últimos 4 anos. É possível observar no gráfico que a lucratividade da suinocultura independente representada pela barra em azul apresentou 3 ciclos de lucratividade positiva, em contrapartida, a suinocultura integrada, representada pela barra em laranja, apresentou somente um ciclo positivo.
Gráfico 3. Evolução da lucratividade nas cadeias independente e integrada
No período de 4 anos, a suinocultura independente apresentou uma lucratividade média de 10,74 % a.a. frente a suinocultura integrada que apresentou uma lucratividade média de -2,93% a.a. para o período analisado. A lucratividade é um importante termômetro para o empreendimento pois ela mede o risco como descrito anteriormente.
A suinocultura independente apesar de vi- ver uma grande crise atual, no longo prazo, foi capaz de trazer na maior parte do tempo resultados positivos ao produtor. Por outro lado, a suinocultura integrada vive um cenário negativo sem retorno ao produtor no longo prazo. Portanto diante dos dados apresentados, podemos ver que o risco na atividade integrada foi maior que o risco para a suinocultura independente.
Neste sentido, os dados nos fazem refletir se realmente a integração possui menor risco frente a cadeia independente. Como estamos analisando a viabilidade econômica da atividade integrada? Se esta atividade não se remunera no médio longo prazo, qual está sendo o nível de endividamento dos produtores, já que, novos projetos estão sendo executados?
Diante do desafio de transformar as propriedades em empresas rurais de sucesso, é imprescindível a análise prática do custo de produção, tanto dos indicadores técnicos quanto dos indicadores econômicos, para um diagnóstico assertivo da situação da em- presa rural.