Depois de terem sofrido embargos por estarem adquirindo carne em área desmatada, os grandes frigoríficos do País assinaram a moratória na qual se comprometem a não comprarem mais boi gordo proveniente de fazendas localizadas em áreas desmatadas da Amazônia. A ação que deveria ser um consenso na cadeia de carnes é vista com desconfiança pelos pecuaristas. “Estamos preocupados com o impacto financeiro na vida do pecuarista e do consumidor final, pois o frigorífico não produz o boi e nem consome a carne. Esses critérios poderão pressionar o preço da arroba para baixo, se não adotarem regras claras e exequíveis, e aumentar o preço da carne para o consumidor, alegando produto com valor agregado, com certificação ambiental”, disse Vicente Falcão, diretor e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Associação dos criadores de Mato Grosso (Acrimat). Segundo a entidade, das 26 milhões de cabeças no Estado, 10 milhões estão em locais considerados ilegais.
Os produtores questionam o fato de que pontos do acordo, que inclui a rastreabilidade, o cadastramento das propriedades e a legalização ambiental, não dependem apenas do produtor, mas também do poder público.
Além de Marfrig, Bertin, JBS-Friboi e Minerva, o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, também participou da assinatura do compromisso dos frigoríficos. Maggi defende que pecuaristas sejam compensados financeiramente pelas áreas do bioma amazônico que deixarão de ser desmatadas para tornar viável o cumprimento das exigências dos maiores frigoríficos do País. Segundo ele, o Brasil vai propor na Conferência do Clima de Copenhague, em dezembro, que os produtores rurais sejam remunerados por não explorar os 20% de suas propriedades que fazem parte da região amazônica cujo desmatamento é, segundo ele, autorizado pela legislação atual. “Na última reunião do Fórum de Governadores da Amazônia com o presidente Lula e ministros, ficou decidido que essa reivindicação vai para Copenhague. O presidente ainda quer conversar com outros presidentes da Amazônia sul-americana para a apresentação de uma proposta conjunta, mas a posição do Brasil já está tomada”, afirmou Maggi.
Independência
Adiada novamente, desta vez para o dia 19 de outubro, a assembleia geral dos credores de Independência e Nova Carne, que definirá o futuro das duas empresas, terá uma dificuldade a mais para destravar a negociação junto aos credores: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quer deixar a sociedade que possui na Independência Participações, holding controladora dos frigoríficos.
Mais do que deixar a sociedade, o banco pretende usar uma cláusula contratual que obriga os donos do Independência, Miguel Russo e Roberto Russo, a recomprarem a participação do banco. A estatal alega que a empresa teria descumprido termos do contrato, entre eles o pedido de recuperação judicial. “A empresa tomou medidas que não eram de conhecimento do BNDES e por isso decidimos recorrer à cláusula de recompra das ações”, disse um representante do banco, presente, ontem, na segunda assembleia.
Em 2008, o banco realizou um aporte de R$ 250 milhões na Independência Participações, passando a controlar 21,82% do capital da companhia. O investimento total pretendido era de R$ 450 milhões, sendo que os R$ 200 milhões restantes seriam aplicados no primeiro trimestre de 2009. Como a empresa entrou com o pedido de recuperação em fevereiro a operação não foi concluída. Estimativas do próprio BNDES indicam que o valor a ser devolvido pelo Independência ao banco seria de R$ 308 milhões.
Na assembleia realizada ontem, Independência e Nova Carne apresentaram uma nova proposta oficial de pagamento de R$ 100 mil à vista, sem juros e correção monetária, aumentando R$ 20 mil da proposta original que era de pagamento à vista de R$ 80 mil, acordo que já foi recusado pelos criadores. “Os pecuaristas continuam com o propósito de receber os 100% do crédito e não aceitamos os 100 mil reais oferecidos”, disse Marcos da Rosa, presidente da Comissão dos Credores dos Frigoríficos em Recuperação Judicial de Mato Grosso.