As declarações do presidente do conselho de administração da BRF, Abilio Diniz, dizendo que a companhia estava “torta e que a nova gestão a está “desentortando” irritaram Nildemar Secches, que até abril passado ocupava o cargo. As afirmações foram feitas na terça-feira por Abilio durante encontro com investidores para comentar os resultados da empresa no terceiro trimestre, considerados frustrantes pelo mercado e pela própria administração da BRF.
Conforme publicou ontem o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, Secches disse que “não existe torto ou direito” e sim diferentes estratégias e filosofias. No encontro, Abilio criticou a antiga gestão da BRF afirmando que a empresa era “empurrada da produção para o consumidor” e que as demandas deste não eram levadas em conta.
Nildemar Secches defendeu a estratégia de sua gestão e do ex-CEO José Antônio do Prado Fay. Essa estratégia, disse ele, permitiu um retorno médio anual de 26% ao acionista durante 18 anos. O número considera também o período em que a Perdigão existia de forma independente, antes de sua união com a Sadia que deu origem à BRF.
Segundo Secches, qualquer empresa pode decidir entre ser mais voltada à produção ou mais voltada ao mercado. Na primeira estratégia, busca-se minimizar custos e maximizar volumes, enquanto a segunda busca maximizar preços e melhorar margens, explicou.
O ex-presidente do conselho da BRF afirmou que a programação da companhia para a produção implicava um “grande planejamento” para antecipar a demanda de mercado. “Havia uma participação coletiva nesse grande planejamento. (…) Não era algo decidido numa sala com cinco sábios”, ironizou. Ele disse não saber qual a melhor estratégia a ser seguida por uma empresa. “Os resultados mostram que a nossa [estratégia] funcionou durante 18 anos”, argumentou.
No encontro com investidores na terça-feira, Abilio também disse que a BRF “nunca foi uma companhia global”, apesar de se apresentar como tal. Secches também rebateu a declaração. “Não é verdade que dizíamos ser global. Sempre dissemos que éramos uma empresa internacional com ambição de ser global”, afirmou. Ele observou que a BRF exporta para 140 países, tem distribuição em 22 e produção, além do Brasil, na Holanda, Inglaterra, Argentina e, em breve, em Abu Dhabi, onde constrói uma unidade processadora.
A nova gestão da BRF, que tem Claudio Galeazzi como CEO global, também tem dito que a antiga administração não conseguiu capturar as sinergias da união entre Perdigão e Sadia. Abilio voltou a falar no tema no evento na terça-feira, enquanto Galeazzi disse que as equipes de vendas ainda estão sendo consolidadas.
Conforme Nildemar Secches, as equipes de vendas da BRF (das marcas Perdigão, Sadia e Batavo) só tiveram autorização para serem unificadas em dezembro do ano passado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Isso porque pelo acordo feito com o órgão de defesa, que permitiu a criação da empresa, a BRF teria de se desfazer de ativos, o que ocorreu em dezembro de 2011 quando unidades e marcas foram vendidas à Marfrig. A transferência dos ativos, porém, só começou em maio do ano passado e foi finalizada em agosto. Apenas em dezembro veio a aprovação final do Cade, lembrou Secches. Assim, somente a partir daí as sinergias poderiam começar a ser capturadas.
A justificativa da atual administração da BRF de que a “falta de planejamento” da empresa contribuiu para a queda dos preços na exportação – já que houve sobreoferta no mercado – e para o resultado fraco no trimestre também irritou Nildemar Secches. “Eles estão lá há sete meses. A responsabilidade é da nova gestão”, disparou. O acúmulo de estoques, afirmou, não é responsabilidade da gestão anterior.
Desde a divulgação dos resultados da BRF, na segunda-feira, os papéis ON da empresa na BM&FBovespa caíram 4,54%. Ontem, a ação subiu 0,38%. No terceiro trimestre, a BRF teve lucro líquido de R$ 287 milhões. Entre instituições financeiras, a expectativa era que a empresa lucrasse entre R$ 299 milhões e R$ 401 milhões.