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Agroindústrias

Nildemar Secches vai deixar a BRF em abril

Ele está na companhia desde 1994, quando o negócio era apenas Perdigão e tinha a Sadia como concorrente.

Nildemar Secches vai deixar a BRF em abril

A BRF, companhia de alimentos resultado da combinação de Perdigão e Sadia, vai mesmo passar por mudanças significativas na formação de seu conselho de administração neste ano. Nildemar Secches, atual presidente do colegiado, pretende encerrar seu ciclo na companhia na assembleia de abril. O Valor apurou que a decisão já estava tomada no fim de 2012.

Em abril termina o mandato atual de Nildemar, figura que há anos personifica a identidade da BRF. O executivo já havia decidido encerrar esse ciclo em sua carreira. Ele está na companhia desde 1994, quando o negócio era apenas Perdigão. Foi o homem escolhido pelos fundos de pensão para promover a recuperação da empresa.

Em dezembro, antes de iniciar suas férias, Nildemar já havia inclusive comunicado sua decisão a alguns dos fundos de pensão. O plano era, ao retornar, começar o trabalho de composição de uma nova formação para o conselho e comunicar sua decisão com tranquilidade ao mercado. A companhia vale hoje quase R$ 40 bilhões. Procurado, o executivo preferiu não comentar o assunto.

Apesar de já ter decidido que era hora de deixar a BRF, Nildemar não estava sabendo das intenções do empresário Abilio Diniz, sócio-fundador e hoje minoritário no Grupo Pão de Açúcar, de possivelmente se candidatar a uma vaga no conselho da empresa – depois ser convidado para esse projeto e a investir na empresa pela gestora de recursos Tarpon, maior acionista da BRF depois dos fundos de pensão do Banco do Brasil e da Petrobras, Previ e Petros, respectivamente.

A Tarpon possui 8% da BRF, equivalente a pouco menos de R$ 3,2 bilhões. Dado que administra um total de R$ 8 bilhões, é possível afirmar que concentração de recursos na empresa é entre 35% e 40%. No passado, quando era substancialmente menor, a Tarpon chegou a ter concentração semelhante na Sadia.

Nildemar esteve à frente da presidência da Perdigão até outubro de 2008, quando passou o cargo a José Antônio do Prado Fay. Logo em seguida, dedicou-se integralmente à condução das negociações para absorção da Sadia, que havia quebrado com a crise financeira internacional por conta da elevada exposição a derivativos de risco.

A expectativa é que não haja nenhuma mudança imediata na administração, especialmente porque Fay deve completar em breve 60 anos, data limite determinada pela empresa para um executivo manter-se em suas funções.

A combinação da Perdigão com a Sadia foi anunciada em maio de 2009 e finalizada em setembro daquele ano. No ano passado, a BRF terminou de cumprir as exigências feitas pelo Conselho Administrativo do Defesa Econômico (Cade).

Em junho do ano passado, enquanto a BRF fechava a permuta de ativos com a Marfrig, passo essencial ao cumprimento do Termo de Compromisso de Desempenho (TCD) com o xerife da concorrência, Abilio era convidado pela Tarpon a pensar na possibilidade de investir na BRF e, inclusive, tornar-se conselheiro na empresa.

Naquele momento, o grupo francês Casino assumiu o controle isolado do Pão de Açúcar e Abilio se tornaria minoritário na empresa. Diante disso, novas perspectivas poderiam se abrir ao empresário e a Tarpon quis ser um dos primeiros a apresentar alternativas.

Até o fim do ano passado, Abilio não apostou muito suas fichas nessa ideia. Mas passou a avaliar mais de perto essa alternativa após perceber que as chances de negociar uma saída definitiva com o Casino da companhia de varejo estavam esgotadas.

Entretanto, vem comprando ações da BRF. O empresário não revelou quanto pretende adquirir. Na sexta-feira, houve um leilão de R$ 355 milhões de ações da empresa de alimentos e Abílio foi um dos compradores. O total vendido equivale a pouco menos de 1% do capital da empresa, mas é quase três vezes mais do que a media do giro diário do papel, em torno de R$ 120 milhões. Caso queira comprar uma participação relevante antes da assembleia, tanto mais leilões mais interessante.

No mercado, comenta-se que os vendedores foram um dos três maiores acionistas, Previ, Petros e a Tarpon, com quem Abílio negocia a aliança.