Desde a indicação de Abilio Diniz para a presidência do conselho de administração da BRF, há um mês e meio, um bastidor movimentado – com aspectos políticos envolvidos e poucas cartas (visíveis) na mesa – envolve os fundos controladores da empresa, concorrentes de BRF e o governo. No centro da questão está a decisão de a Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, apoiar ou não a eleição do empresário, presidente do conselho do Pão de Açúcar. Abilio deve ser eleito amanhã na assembleia de acionistas, com apoio dos fundos Tarpon e Previ, sócios na BRF.
Com posição inicial contrária à ideia, a Petros analisou nas últimas semanas a hipótese de se abster na votação – decisão com boas chances de ser tomada pelo fundo na assembleia. Nesse momento de definição – três meses após o vazamento das informações em torno do nome do empresário -, forças contrárias e favoráveis à indicação de Abilio se apresentaram mais claramente nas últimas semanas.
Há pressões paralelas, que ganharam corpo pré-assembleia. O governo – que diz não se envolver em questões privadas – tem acompanhado de perto o assunto, na pessoa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, apurou o Valor. Para interlocutores, Mantega já disse que essa é uma decisão exclusiva do fundo de pensão Petros. Nos bastidores, porém, surgiram questionamentos a respeito da eleição de Abilio, empresário que sempre foi próximo ao atual governo, por parte de conselheiros e de concorrentes da BRF que também têm bom relacionamento com o governo petista.
Joesley Batista, presidente da holding que controla o frigorífico JBS, empresa que tem como sócio o banco de fomento BNDES, teria dito aos mais próximos que Abilio precisará ter muita habilidade para evitar conflitos ao assumir as duas cadeiras, apurou o Valor. E sua permanência nos conselhos poderia gerar indisposição com fornecedores do GPA e varejistas parceiros da BRF, mas que Abilio seria experiente o bastante para saber se posicionar.
Na defesa de sua própria indicação, Abilio Diniz buscou se aproximar da Petros há três semanas, na tentativa de estabelecer um canal de comunicação direto com o fundo e deixar mais clara a sua posição. Cerca de 15 dias atrás, Abilio ligou para Carlos Fernando Costa, diretor de investimentos da Petros, propondo uma conversa informal. O encontro, na sede da Península Participações, empresa que cuida dos negócios de Abilio em São Paulo, foi cordial, mas protocolar.
Abilio disse que queria o apoio da Petros por considerá-lo crucial numa nova fase da empresa, e Costa respondeu o que o mercado já está cansado de saber: o fundo está pronto para ajudar em iniciativas que forem boas para a empresa. Disse que não tem nada contra Abilio, mas não gostou nem um pouco da forma como o nome do empresário foi proposto, principalmente pela Tarpon. A Petros tem 12,74% da companhia, o fundo de pensão Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, está com 12,21%, e a gestora de recursos Tarpon, 8%.
O diretor disse também que se sente desconfortável com um conflito de interesses de BRF em relação a Pão de Açúcar – Abilio reforçou que isso não existiria. Uma luz no fim do túnel, para as aspirações de Abilio, surgiu na conversa após Costa dizer que acredita que o conflito pode ser isolado. Mas a Petros não prometeu nada.
o conselho de BRF, Décio da Silva, que votou alinhado com o presidente da Petros, Luís Carlos Fernandes Afonso, contra a indicação de Abilio na reunião do conselho, estaria defendendo posição contrária ao nome do empresário por considerar que há conflito de interesses. Abilio tem dito que não agiria de maneira que pudesse sair da ética e da honestidade e irá se abster de votações conflitantes na BRF. Diz que não terá poder para decidir nada sozinho, nem na BRF nem no GPA.