Redação AI 18/08/2004 – 06h39 – A Doux Frangosul, do grupo francês Doux, está vivendo uma pequena revolução. A empresa, que sempre priorizou o foco na exportação, vai ampliar a aposta no mercado interno. A mudança começou a ser desenhada ainda em 2003 – quando a empresa passou por uma reestruturação – e tem como objetivo melhorar a rentabilidade dos ativos. “Exportação não é o único foco. Definimos estratégias novas (…) e na mudança de estratégia reconhecemos o mercado interno como importante”, diz o diretor-geral da companhia, Christophe Malik Akli, que está no comando da Doux Frangosul desde novembro passado. Antes, ocupava a vice-presidência da empresa, então presidida por José Augusto Lima de Sá, hoje na Sadia.
Segundo Akli, que se define como um “caixeiro-viajante”, a Doux Frangosul vinha apresentando rentabilidade “aquém do desejado” porque estava muito focada em commodities. Hoje, afirma, “o foco é o cliente”.
Com a estratégia inicial, definida quando o grupo Doux comprou a Frangosul em 1998, a empresa teve um crescimento significativo em suas vendas. Saiu de um faturamento de R$ 380 milhões em 1998 para R$ 1,4 bilhão ano passado. Mas apesar disso, a rentabilidade não decolou. Em 2003, o lucro líquido foi de R$ 28 milhões e o bruto alcançou R$ 38 milhões, de acordo com Akli.
Na nova estratégia da Doux, as alterações são expressivas. A empresa deixou de vender frango inteiro no mercado doméstico e pretende reduzir, até chegar a zero, a oferta de frango em cortes. Além disso, está fazendo alterações em linhas de produtos e lançando novas linhas.
Acaba, por exemplo, de lançar dois produtos na linha light, o Bruster Light (carne temperada, cozida e resfriada de frango) e a lingüiça de pernil light. Até o fim do ano, serão outros 10 itens. Todos mais elaborados, explica Akli, sem dar detalhes . “É a substituição do frango inteiro e dos cortes por produtos elaborados”.
Com 75% de sua receita proveniente das exportações, a Doux Frangosul também busca a diferenciação no mercado externo, onde vende para 70 países. Um exemplo são as vendas de cortes de aves para supermercados e food service, na Europa e Ásia. Akli observa que o frango inteiro chegou a corresponder à metade dos embarques; a outra metade eram cortes desossados. Hoje, estes últimos já respondem por dois terços dos embarques. A empresa é a quarta no ranking dos exportadores de frango e oitava em suínos.
Christophe Akli afirma que as mudanças na empresa demandaram “investimentos baixos” em modernização e em máquinas, mas não revela números. Informa, contudo, que para promover as mudanças não foi necessário ampliar o volume de produção para o mercado interno, hoje em 120 mil toneladas. A empresa abate diariamente 1 milhão de frangos, 3 mil suínos e 20 mil perus, em cinco plantas no Brasil.
Segundo ele, o mercado externo deve seguir respondendo por 75% das vendas da empresa, projetadas em R$ 1,6 bilhão este ano. A novidade é que o mix no mercado doméstico será diferente.
Outra razão para a aposta da Doux no mercado interno brasileiro é a melhora no cenário econômico, admite o executivo.
A segunda fase das mudanças na empresa prevê uma reavaliação sobre as áreas de atuação. Mas por enquanto, o frigorífico seguirá no eixo São Paulo e Sul do país, informa o executivo.
Os olhos mais atentos – se é que se pode assim definir – do grupo francês para o Brasil são fáceis de explicar. A subsidiária brasileira gera um terço do faturamento da holding e é daqui que sai a maior parte das exportações do grupo Doux. Na Europa, são duas unidades exportando itens congelados. As outras 20 atuam com produtos resfriados e elaborados apenas dentro do mercado europeu.
A Doux francesa, que também passa por reestruturação, fechou duas unidades em 2003. Akli afirma que a empresa busca se adequar ao “ambiente externo”. Segundo ele, a produção de itens “primários” para exportação fica inviável na Europa com a prevista redução dos subsídios no continente. Com isso, ele não descarta que, no futuro, a Doux passe a exportar só a partir do Brasil.