No momento em que o Brasil tenta abrir o mercado americano para a carne bovina in natura, a carne bovina industrializada brasileira, já vendida aos Estados Unidos, pode ser embargada pelo país. O Valor teve acesso a um documento em que os EUA informam ao Ministério da Agricultura ter detectado resíduos acima dos níveis permitidos do vermífugo ivermectina em um lote de carne enlatada da JBS.
O memorando 143, do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), datado do dia 21 de março e encaminhado à Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), vem à tona justamente quando se esgotava o prazo para que o ministério brasileiro enviasse um relatório com as mudanças feitas após a visita de veterinários americanos em 2013. Nessa visita, os veterinários propuseram medidas para evitar novas ocorrências de casos de ivermectina acima do permitido pelos EUA na carne enlatada. O prazo para envio do relatório foi sexta-feira. “Será o mesmo problema que tivemos em 2010. O cenário para o embargo está pronto”, disse uma fonte.
Naquele ano, os EUA detectaram resíduos acima do permitido do vermífugo em carne proveniente do Brasil e fecharam temporariamente seu mercado ao produto.
A notificação, segundo uma fonte, foi entregue ao Ministério da Agricultura que não divulgou seu conteúdo e, procurado, não confirmou seu recebimento até o fechamento desta edição. O lote com a violação era originário da unidade da JBS (SIF 337), na cidade paulista de Lins. Procurada, a JBS informou que ainda não foi notificada.
Segundo uma fonte do ministério, o problema com a ivermectina está justamente no uso de diversos produtos com períodos de ação diferentes. “A indústria [de carne] quer regular mais a ivermectina. Hoje, existem vários produtos. Às vezes, o pecuarista usa um e o animal é abatido antes do efeito passar, o que deixa resíduos na carne”, disse a fonte.
A SDA, afirmou uma fonte, está indecisa sobre quais garantias pode dar aos americanos para atender a exigência em relação aos níveis residuais de ivermectina. “Existe um impasse insolúvel entre a associação que representa a indústria de carne, o Dipoa e os fabricantes do produto. Os dois primeiros querem o banimento do produto, enquanto o terceiro não aceita, alegando falta de elementos técnicos”, disse.
Segundo a mesma fonte, o FSIS, departamento do USDA equivalente ao Dipoa, quer enviar uma missão ao Brasil, mas a SDA vem atrasando o planejamento para ganhar tempo até decidir o que fazer no caso da ivermectina.