Joanita Maestri Karoleski conheceu Gilberto Tomazoni em 2010, quando o hoje CEO da JBS trocou a Sadia pela Bunge.
O recém-chegado CEO e a veterana com quase 30 anos de casa desenvolveram tamanha relação de confiança que a certa altura Tomazoni disse à subordinada: “O dia que eu tiver uma oportunidade, vou te convidar.”
Depois de sete anos na JBS (a maior parte deles comandando a Seara), Joanita hoje é a pessoa que a empresa chama quando o assunto é fazer o bem.
A catarinense de 60 anos e ex-tenista amadora estava pronta para pendurar as raquetes no início do ano quando a covid estourou. Seu sonho para a aposentadoria era trabalhar em iniciativas do terceiro setor, particularmente as ligadas à educação. O plano teve que ser adiado. Tomazoni convocou Joanita e a encarregou de investir R$ 400 milhões em esforços sanitários e sociais.
Joanita criou três comitês e alocou os recursos em diversos projetos — 60% deles continuarão a existir mesmo depois da pandemia. Na área de saúde, o time liderado por ela construiu dois hospitais, comprou dois mil leitos e doou 365 respiradores para hospitais públicos. A JBS também apoiou centenas de estudos acadêmicos relacionados à covid e doou para ONGs que apoiam comunidades indígenas e ribeirinhas.
Os Sete Trabalhos de Joanita incluíram ainda perfurar poços artesianos no Nordeste, instalar wifi em escolas públicas e doar fogões para que mulheres da comunidade de Paraisópolis conseguissem ter alguma renda em meio ao lockdown da economia.
Depois de seis meses exaustivos botando essas iniciativas de pé, Joanita estava — finalmente — com um pé fora da companhia, rumo ao adiado e merecido descanso.
Mas Tomazoni ligou de novo, pedindo que a executiva assumisse a presidência do Fundo Amazônia, o instituto independente que a JBS criou para investir até R$ 1 bilhão nos próximos anos na conservação da Amazônia e desenvolvimento de comunidades locais.
“Minha avó paterna fazia muita caridade. Se precisasse ela tirava a roupa do corpo para ajudar os outros. Eu convivi muito com ela e isso me marcou muito,” ela disse ao Brazil Journal.
Nascida numa cidade de 5.000 habitantes no leste catarinense, Joanita tinha 14 anos e era uma das melhores alunas do colégio quando a professora de outra escola teve que sair de licença. O inspetor tomou o risco e convidou a menina para substituir por um ano. Joanita deu aula para mais de 40 alunos. Detalhe: tratava-se de uma ‘escola isolada’, em que todas as séries, da primeira à quarta, tinham aula na mesma sala.
Hoje, Joanita doa seu tempo livre como mentora de um público eclético: de jovens a executivos, principalmente mulheres.
A criação no interior e a origem humilde de alguma forma se combinaram para dar a Joanita um semblante fechado, que às vezes ofusca sua empatia.
“No começo da carreira, até perdi cargos de liderança por conta disso, mas depois fui aprendendo com a vida,” diz. “Hoje, eu sou dura na cobrança, mas acolhedora: tento entender o perfil de quem trabalha comigo para saber como a pessoa gosta de ser tratada.”
Quando seu trabalho no Fundo Amazônia terminar, o projeto original será retomado: o tempo livre vai todo para a educação. Isso — claro — se Tomazoni deixar.