Redação (22/08/2008)- O sucesso do complexo agroindustrial da Perdigão em Rio Verde, cujo faturamento anual chegará a R$ 1 bilhão, reforça a aposta da empresa no sudoeste de Goiás. A companhia adquiriu concorrentes e investiu pesado na construção de novas plantas nas cidades vizinhas de Jataí e Mineiros, ambas situadas no eixo da BR-364.
Mesmo ameaçada pelo avanço da cana-de-açúcar no sudoeste de Goiás, o que pode colocar em risco o abastecimento das granjas com o milho farto da região, a Perdigão concentrará esforços na expansão das instalações em Jataí para dobrar os abates de aves e colocar de pé um laticínio na cidade. Na fábrica de Rio Verde, a empresa informa estar "muito próxima" da capacidade. "Chegamos ao limite da gestão de pessoal. Temos oito mil empregados e devemos ter dez mil em três anos", diz o diretor de novos negócios, Nelson Vas Hacklauer. "Depois disso, completamos o ciclo em Rio Verde. Já estamos pegando mão-de-obra em outras cidades porque não encontramos na cidade". Ainda assim, R$ 300 milhões serão investidos pela empresa e seus integrados no "Projeto Buriti" de Rio Verde até 2011.
Os produtores de Rio Verde ainda podem ser beneficiados pela diversificação, como o fornecimento de leite para abastecer a unidade recém-adquirida da Eleva, em Itumbiara (GO). A empresa quer incentivar seus integrados a criar gado de leite. "Tivemos dificuldades, foi sofrido, mas criamos um modelo que tem potencial para ir além, com o leite, por exemplo", diz Hacklauer. A empresa acredita que continuará a ter forte peso na economia de Rio Verde. "Como temos plano de previdência, nossos funcionários, mesmo aposentados, vão continuar a consumir", diz o diretor. Com 30 anos de casa, o empregado pode sacar 70% dos depósitos. "A massa salarial deve aumentar". A empresa estima R$ 1,5 bilhão em movimento econômico.
Beneficiada por isenção fiscal e a cessão de terrenos para sua fábrica de 157 mil m², a Perdigão tem capacidade para abater 2,5 milhões de aves e 27 mil suínos por semana, além de produzir 250 mil toneladas de embutidos e pratos prontos congelados por ano. Em 1998, a empresa de apenas 600 funcionários começou os abates com 500 suínos e 30 mil aves por dia. "O grande mérito foi induzir outros investimentos. Vieram outras grandes empresas atrás", afirma Hacklauer. Da lista de benefícios, o diretor cita a quase universalização da energia trifásica na região, o que ajudou o produtor a entrar em outras atividades. "Foram 600 km de linha trifásica, além das estradas vicinais, onde bancamos um terço do custo", diz. Diretor regional até 2006, Euclides Costenaro lembra os problemas iniciais: "Tivemos dificuldades para conquistar integrados. A cabeça e o porte eram bem diferentes lá do Sul. Hoje, tem fila de espera", diz.
A principal preocupação da Perdigão está centrada na rápida, e incontrolável, expansão da cana na região. "É preocupante. Reclamamos oficialmente com o governo. Se a indústria seguir agressiva, vamos ter problemas", revela Nelson Hacklauer. "Seremos prejudicados porque vamos ter que trazer milho de Mato Grosso. Vamos perder os benefícios fiscais, deixaremos de ser competitivos e pensaremos duas vezes antes de aumentar investimentos". Mesmo assim, a cana avança a passos largos.