Estudo inédito divulgado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT) e pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) revela que quase metade dos produtores de soja em Mato Grosso (42%) faz uso de agricultura de precisão em suas lavouras. Em algumas regiões, como o sudeste e o oeste do Estado, o índice ultrapassa 50%. Os dados fazem parte do estudo intitulado “Pesquisa sobre Mecanização Agrícola em Mato Grosso”, apresentado ontem, em Cuiabá.
A informação corrobora os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) que demonstra o aumento de 90% no volume de colheitadeiras vendidas no Estado entre 2009 e 2013, em comparação com os cinco anos anteriores. O crescimento da compra de tratores de roda, em Mato Grosso, foi ainda maior, de 107% no mesmo período, conforme a entidade.
Isso significa, para o Imea, que os produtores do Estado, principalmente àqueles que tiveram como foco o investimento em eficiência, estão consolidando as práticas de agricultura de precisão. Para o presidente do Sistema Famato/Senar, Rui Prado, apenas tecnologia não é suficiente para garantir o desenvolvimento da agricultura no Estado, é preciso cada vez mais investir na capacitação de pessoas. “São as pessoas que usam o maquinário e elas só fazem isso com conhecimento técnico”, afirma.
O Imea, instituto que pertence ao Sistema Famato/Senar, entende que o cenário dos mercados da agricultura em Mato Grosso nos últimos cinco anos e o acesso ao crédito levaram o produtor a renovar seu parque de máquinas. Consequentemente, oportunizou aos agricultores do Estado, principalmente àqueles que investiram em eficiência da produção, realizar agricultura de precisão com a aquisição de novas tecnologias para suas propriedades.
“Vale destacar que essa renovação do parque de máquinas no Estado trouxe uma série de novas oportunidades para os produtores, com destaque a automação necessária para a realização da agricultura de precisão”, anunciou o gestor de Projetos Imea, Daniel Latorraca, ao apresentar o estudo.
As estratégias de precisão adotadas pelos produtores e questionadas no levantamento são mapa de fertilidade (41% realizadas), mapa de colheita (18%), mapa de pragas, doenças e plantas daninhas (15%), aplicação por taxa variável (36%) e aplicação por zona de manejo (36%). A região mais mecanizada do Estado, a oeste – onde 54% dos produtores fazem agricultura de precisão – tem 50% de incidência na maioria desses indicadores.
MÃO-DE-OBRA – Porém, nem todos os indicadores são positivos. Embora o dado expressivo da presença de práticas da agricultura de precisão em 42% das lavouras do Estado, a maioria dos agricultores entrevistados no estudo, proprietários de 710 mil hectares de áreas nas diversas regiões, apontam que não utilizam os maquinários com toda sua capacidade em virtude da falta de mão-de-obra qualificada para tal. Ao menos 88% deles alegam ser a falta de profissionais capacitados o principal gargalo para adotarem esses novos processos de produção.
“As máquinas hoje em dia vêm com tecnologias embarcadas de última geração que poderiam permitir economias significativas nos custos de produção, com o uso da agricultura de precisão, mas temos uma dificuldade na hora de encontrar gente qualificada para usar essa tecnologia em todo o seu esplendor e suas possibilidades”, confirma o produtor rural Ricardo Arioli, da Região de Campo Novo do Parecis.
A pesquisa também revela que a maioria dos trabalhadores que operam os maquinários de ponta nas fazendas recebeu treinamento das empresas que venderam os equipamentos. O nível de satisfação desses funcionários com os cursos recebidos não atinge 50% deles em nenhuma região do Estado.
Sendo assim, como conclusão o estudo aponta uma lacuna de conhecimento da mão-de-obra e a necessidade de melhoria na qualidade das capacitações desses profissionais. É nesse cenário que se destaca a importância da ampliação dos cursos de agricultura de precisão oferecidos pelo Senar em Mato Grosso.
OPORTUNIDADE – Além de oferecer o treinamento em Tecnologia de Precisão desde 2013, curso que prepara profissionais que já atuam na operação de máquinas para utilizar os instrumentos tecnológicos embarcados de precisão, o Senar-MT iniciou mais uma capacitação na área. Começa a ser oferecida, neste ano, a Qualificação em Agricultura de Precisão, uma preparação de 120 horas destinadas a pessoas que nunca atuaram no mercado da agricultura de precisão para conhecer todos os passos do processo e aplicá-los nas propriedades.